Não é de hoje que o diálogo, acompanhando da abstração de interesses, tem sido uma arma importante para o amadurecimento do Brasil. Desde o Império, as soluções para as questões de interesse nacional são dadas por meio da conversa entre líderes com habilidade e trânsito em circunstâncias adversas. Assim se conquistou a unidade nacional, a abolição da escravatura e, mais recente, o fim do regime militar.
Os brasileiros podem se gabar que a transição para a democracia ocorreu sem que sangue fosse derramado, ao contrário de outras nações. O diálogo, à época conduzido por políticos como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, foi elemento decisório para que a população passasse a ter a voz, que ainda hoje é direito de todos. Uma conquista que vem à tona nos tempos atuais, quando se fala em reforma política. Essa é, de fato, uma vontade que está aflorada na sociedade. Também foi bandeira e alvo de promessas nas últimas eleições. Mas agora em que o quadro político-eleitoral está definido, surge a seguinte pergunta: como viabilizar isso?
O dilema não é simplesmente definir o instrumento, popular ou não, para se fazer essa reforma. Métodos, teorias e ideias não faltam. A questão é conceitual: de que forma o país conseguirá a unidade necessária para fazer as mudanças que precisa no sistema político partidário? A resposta está na história. Só o diálogo será capaz de construir uma proposta que realmente traga melhorias e evite o esfacelamento da representatividade.
Por mais que entre os significados da palavra democracia exista a frase “quanto mais participação melhor”, ela só pode ser sólida e madura quando fortalece a maioria. Ou seja: num país como o Brasil, em que os três maiores partidos representam apenas 35% da Câmara dos Deputados, abre-se caminho para composições espúrias, dificuldade de governabilidade e transforma o parlamento em balcão de negócios. Afinal, obter a maioria sempre terá um custo. Um valor que a sociedade não aguenta mais pagar.
Esse cenário só fortalece a necessidade de uma reforma que dê solidez ao sistema. Algo que possibilite a coalizão em momentos como o atual, que não pode ser visto pelas lideranças como forma de tirar vantagem eleitoral pura e simplesmente. É preciso agir para que se tenha um modelo político-partidário eficaz e respeitado. Fruto da unidade nacional, que só será conquistada com o empenho de líderes falando a mesma língua e sem interesses ideológicos.
Daí a referência a Dom João VI. Ele pode até não ser lembrado como uma figura importante para o Brasil. Mas lutou pela união de províncias tão diferentes e separadas num ambiente em que o comum seria a formação de diferentes nações. Ele também não se interessou em ser lembrado por isso, no entanto hoje serve de reflexão e exemplo a ser seguido. Que apareçam líderes como Dom João VI! Que ao se proporem a tocar a reforma que o país precisa, tenham em mente a mensagem deixada por outro ícone, o criador da psicanálise, Sigmund Freud: você precisa conhecer a própria história para não cometer os mesmos erros. A regra vale para o Brasil e se encaixa perfeitamente ao momento político que o DF também vive. Somente a unidade, observando-se o que deu errado no passado, haverá os avanços que a sociedade tanto almeja.
Leonardo Ribbeiro (33), Jornalista e Especialista em Planejamento, Orçamento e Gestão Pública pela FGV.