Foto: Reprodução

De cada dez microempreendedores individuais, sete passaram a ganhar menos de US$ 200 por mês, o equivalente hoje a R$ 1.088, mostra pesquisa da Neon e Flourish

Por Reneé Pereira*

Sete em cada dez microempreendedores estão ganhando abaixo de U$ 200 por mês no Brasil (R$ 1.088 considerando o dólar de sexta-feira, valor próximo ao salário mínimo, de R$ 1.045). Antes da pandemia do coronavírus, a situação era inversa: oito em cada dez profissionais ganhavam acima desse valor e apenas um tinha renda inferior ao salário mínimo, segundo levantamento feito pela fintech Neon e pelo fundo de venture capital Flourish, com apoio da empresa de pesquisa de impacto 60 Decibels.

Os pesquisadores entrevistaram, durante o mês de maio, 1.600 microempreendedores individuais (MEIs) sobre os reflexos da pandemia no trabalho e nas finanças. O resultado mostrou que quase 90% dos profissionais tiveram queda na renda, em maior ou menor grau. Se antes da pandemia mais da metade dos empreendedores ganhavam acima de US$ 400 (R$ 2,176) por mês, agora apenas 10% estão nessa faixa.

Os MEIs são um dos mais importantes instrumentos de formalização da economia. Desde 2008, quando foi criado, o programa foi responsável por tirar milhões de trabalhadores da informalidade, diz o Sebrae. No total, são mais de 10 milhões de microempreendedores individuais. “A preocupação é que esses profissionais, como micro e pequenas empresas, representam entre 30% e 40% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro”, afirma o diretor da área de pessoas jurídicas de Neon, Marcelo Moraes, um dos responsáveis ​​pela pesquisa. Ou seja, o impacto desse grupo de trabalhadores na economia do País é grande.

Os profissionais que mais reduziram a renda, segundo a pesquisa, foram os motoristas de aplicativos, esteticistas e comércio de rua, como mercadinhos e lanchonetes. Segundo Moraes, metade dos entrevistados teve o uso de uma economia ou redução de gastos para se adequar à nova realidade. Além disso, 39% têm dinheiro emprestado para honrar compromissos (em muitos casos, ou cheques especiais) e 18% são pagos ou vendidos em algum momento durante uma pandemia.

“Esses números revelam uma tragédia. Essa é uma parte da população que mais sofre com os reflexos da crise do coronavírus ”, diz o professor do Insper David Kállas. Para ele, as grandes e médias empresas têm mais condições de caixa e acesso ao crédito e ao mercado de capitais para atravessar esse momento complicado. Mas os microempreendedores não têm essa saída.

Os MEIs, diz o professor, são uma categoria mais vulnerável, que não têm reserva para enfrentar uma falta de renda por muito tempo. “Como diz um colega, estamos na mesma tempestade, mas cada um no seu barco.” Neste momento, é para esse pessoal que o governo precisa estender a mão, uma vez que representa a maior força de trabalho do País, Kallas completas.

Até agora, o auxílio e os programas de ajuda dos órgãos públicos não apresentam resultados eficazes para atender a quem mais precisa. De acordo com uma pesquisa do Neon e do Flourish, a maioria não se sente amparada pelo governo e entende que as propostas estão distantes da realidade. Marcelo Moraes afirma que um dos dados mais impressionantes do levantamento é o índice de desesperança dos profissionais. “O sentimento de desamparo é grande: 42% deles não têm esperança de sair da crise”, diz o executivo.

Na avaliação do presidente da Trevisan, VanDick Silveira, em uma situação desse grupo de trabalhadores é muito delicada. A renda per capita do brasileiro, diz ele, é de dez anos, mas o preço dos preços continua inalterado. “Apesar da inflação estar controlada, o índice de preços não recua dez anos como renda. Ou seja, é uma perda no dobro. Isso tem impacto direto no consumo. ”

Esse reflexo também foi detectado na pesquisa do Neon e do Flourish. Para conviver com uma queda de renda provocada pela pandemia, os microempreendedores sofreram cortes de gastos. O surpreendente é que mais da metade reduziu o consumo de comida para se adequar à nova realidade. Muitos disseram que deixaram de jantar para fazer apenas uma lanche, revela o levantamento.

Para o pesquisador da área de Economia Aplicada da FGV Ibre, Daniel Duque, esse grupo de profissionais tem grandes dificuldades para sair da crise. “A recuperação será lenta, uma vez que dependem de setores que também vão demorar para superar uma crise, como serviços.”

O presidente do Sebrae, Carlos Melles, afirma que neste momento os microempreendedores precisam de mais acesso a crédito para aliviar a pressão sobre o fluxo de caixa. “Por isso, estamos trabalhando com o governo e o Congresso para a criação de novas linhas de crédito voltadas para pequenos negócios”, diz ele.

*Com informações do Estadão

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here