O atual sistema partidário brasileiro é complexo. Há um número excessivo de partidos políticos. O Brasil tem hoje 35 partidos. Nas últimas eleições a Câmara dos Deputados ganhou parlamentares de 28 siglas. Com a criação de novas legendas, como a Rede e o PMB, 30 partidos passaram a ter deputados federais. Essa pluralidade acaba gerando agremiações sem cara; sem ideologia. O nível de conteúdo também é baixo e a possibilidade de negociações espúrias fica latente.
Tudo isso tem uma consequência nociva para o ambiente político: a falta de representação. A sociedade não sente que tem no parlamento os representantes que, de fato, gostariam. Até mesmo por conta do coeficiente eleitoral, que elege pessoas desconhecidas e com pouca ou nenhuma representatividade. Há partidos, por exemplo, que nas últimas eleições presidenciais receberam menos votos do que o número de assinaturas exigido pela Justiça Eleitoral para serem criados.
Essa situação, aliada ao momento econômico atual, tornará tudo ainda mais difícil nas eleições deste ano. O país passa pela maior crise da história. E como é sabido, questões econômicas geram instabilidade política. As pessoas estão mais intolerantes. A população está incrédula com a política. Políticos estão sendo hostilizados. A política virou motivo de revolta e deboche. Esse é o primeiro ponto a se considerar.
O segundo é: as eleições deste ano terão menos recursos financeiros. Não apenas pelas mudanças nas regras, mas também pelos efeitos e o medo gerado por conta do ambiente em que o país está vivendo – da ação dos órgãos de fiscalização. Ou seja: esta será uma eleição sem verba. Por isso o verbo fará diferença. Os candidatos terão que convencer o eleitor com propostas, com soluções que possam trazer esperança e resultado. E a pauta será economia, economia, economia. Mesmo no âmbito local, a discussão será nacional.
A sociedade está aflita com o desemprego, com a inflação, com os gastos exagerados do Estado. Para piorar, as prefeituras estão quebradas.
Este cenário mostra que não será uma eleição fácil. O momento vai exigir cautela. Vai exigir de candidatos um discurso propositivo e, acima de tudo, de unidade. O desafio é fazer com que a população volte a acreditar na política e nos políticos. Que a sociedade volte a votar sabendo em quem e porque está votando. É uma grande missão. Difícil, mas não impossível.
Leonardo Ribbeiro (33), jornalista e especialista em Planejamento, Orçamento e Gestão Pública pela FGV.
(Colunista do Blog Agenda Capital)