Presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução.

Classe política avalia o crescimento do presidente nas últimas pesquisas de intenção de voto. Com a terceira via patinando e sem um candidato em alta entre o eleitorado até agora, polarização com Lula deve aumentar

Por Cristiane Noberto e tainá Andrade

Enquanto a terceira via patina, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem se recuperando em todas as pesquisas de intenção de votos. Parte do apoio vem do eleitorado que já esteve do lado dele, outros são os arrependidos de tê-lo elegido, que até flertaram com outros candidatos para as eleições de outubro, mas não conseguiram se identificar o suficiente. Agora, estão se reorganizando em torno do chefe do Executivo, aumentando gradativamente sua popularidade.

O crescimento de Bolsonaro se dá especialmente porque nenhum candidato da terceira via sozinho consegue empolgar os eleitores. Além disso, a maneira que Bolsonaro tem utilizado a caneta desperta a atenção de diversas camadas do eleitorado. Por exemplo, na última semana, ele entregou mais uma série de “pacotes de bondades”, desta vez, focando na reestruturação da economia, especialmente para as pessoas de mais baixa renda. Assim, faz parte da estratégia de reeleição conceder benefícios assistenciais aos mais pobres como uma forma de se conectar com o eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário.

De acordo com o líder do Republicanos no Senado, senador Mecias de Jesus (RR), a recuperação do eleitorado do presidente já era esperada e tem base na forma como as ações populares vão se consolidando. “É natural que ele tenha recuperado o capital que até ele mesmo afastou. Esse eleitor não estava perdido, estava distante em razão do clima que se formou no país. A maioria da rejeição de Bolsonaro foi criada pelo próprio presidente, quando falava o que não estava no script. Mas essa rejeição não se compara com a onda de corrupção feita pelo PT no país. Ninguém quer voltar para isso. Contudo, na dificuldade, Bolsonaro não deixou que os municípios falissem, ele abriu os cofres para manter o equilíbrio. Foi tão drástico que se ele não fizesse isso, o país estaria numa desgraça. Então, as pessoas começaram a ver isso”, avaliou o parlamentar.

A ascensão do presidente também já era de certa forma esperada pela oposição. Há cerca de três semanas, Lula afirmou ser natural o chamariz em torno de Bolsonaro, porque o presidente antecipou a campanha ao mandar seus ministros pelo país “abrindo sacos de bondades”. Houve também a substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, ofertando R$ 400, quase o dobro do programa petista. Ainda que o valor tenha prazo de validade, dá um clima de felicidade para os mais necessitados. “Para nós, esse crescimento, ainda que moderado, não é surpresa. Ele pode pegar antecipadamente os votos úteis e sepultar a terceira via”, disse um aliado de Lula.

Outro motivo dessa recolocação é que, a grande aposta de substituição do presidente para o eleitorado de direita, era o ex-juiz Sergio Moro. Tido como o único que poderia capturar os votos daqueles que se decepcionaram com o governo, agora enfrenta rejeição da classe política e, perante aos cidadãos, não deixa claro as intenções e propostas. Além disso, quando surgiu, focou em parecer uma espécie de “Bolsonaro bonzinho”, ao resgatar mensagens e linguagens da campanha de Bolsonaro em 2018, mas a população não comprou.

O ex-juiz também se perdeu na pré-campanha e agora tem uma porção de votos muito limitada, focada especialmente nos apoiadores da Lava-Jato. De acordo com Matheus Albuquerque, sócio da Dharma Politics, a antipatia dos eleitores mais ferrenhos dos candidatos mais competitivos soma-se à dificuldade do ex-ministro em convencer os indecisos. “Desta forma, a desidratação de Moro nas pesquisas gera, como resultado, a migração de intenções de voto — conservador, evangélico, de direita — para Bolsonaro. Essa migração de votos de um candidato de direta para outro candidato de direita traz atenção para dois elementos: as eleições de 2022 serão marcadas por forte polarização e pelo voto útil”, afirmou.

O antipetismo também é figurinha carimbada no discurso de Bolsonaro. De acordo com Orlando Thomé Cordeiro, consultor em estratégia, esse elemento ainda vai ser forte nas eleições e poderá ser decisivo. O presidente também deve utilizar pontos que Lula não consegue de fato comprovar. Pois, apesar de a Justiça ter retirado as condenações do petista, nenhuma delas foi por absolvição e, sim, por questões de trâmite processual, desta forma, Bolsonaro consegue incitar o sentimento contra o ex-presidente e o partido dele. Contudo, as pesquisas mostram que, diferentemente de 2018, o antibolsonarismo é ainda mais forte neste momento.

“Essa polarização se mantendo, vamos ver qual dos dois sentimentos vai ser predominante. Não considero, apesar de as pesquisas indicarem, uma vitória de Lula sobre Bolsonaro. É possível, num eventual segundo turno, que Bolsonaro seja vitorioso, porque, além desses sentimentos, é preciso considerar o nível de rejeição, que também é muito alto. Muita gente não vai votar a favor ou porque gosta do candidato, mas sim contra”, afirmou. Segundo a última pesquisa da Genial Quaest, lançada na quarta-feira, cerca de um quarto dos eleitores não quer nenhum dos dois ocupando a cadeira no Palácio do Planalto.

Thomé avalia que, se não houver um grande movimento de articulação, como a unificação em um único candidato que resgate o sentimento, nem Lula nem Bolsonaro, a terceira via continuará patinando. Alguns dos partidos ainda tentaram começar a articulação, caso do PSDB, MDB e o União Brasil, que chegaram a cogitar a possibilidade de retirar suas candidaturas em prol de apenas uma. Mas a ideia vem sendo corroída aos poucos. O emedebista Baleia Rossi (SP) já decidiu manter a senadora Simone Tebet (MS) no páreo e os tucanos estão prestes a perder o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, para o PSD e, assim, a terceira via vai ficando apenas mais acumulada.

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Com informações do CB

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