Elon Musk, definido por Trump para comandar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) . Reprodução.

No comando do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), o bilionário tem colhido dados pessoais e financeiros de americanos e do governo na intenção de cortar os gastos federais

Por Redação

WASHINGTON – O bilionário Elon Musk recebeu carta branca de Donald Trump para atuar em seu novo governo em busca de reduzir os gastos e as atuações do funcionamento público. No comando do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), ele agiu nas últimas três semanas para acessar e colher informações sobre as agências federais e, a partir disso, tentar enxugar a máquina. A “desburocratização” ainda não começou de fato, mas a equipe de Musk já vem atuando nos últimos dias para colocá-la em curso, às vezes de formas pouco ortodoxas.

Entre os órgão na mira do DOGE até o momento estão: a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA), o Departamento de Educação, o Departamento de Tesouro, entre outros. Já nos primeiros dias, seus funcionários assumiram o controle do Serviço Digital dos EUA (USDS), que cuida dos computadores e bases de dados do governo; e do Escritório de Gestão de Pessoal (OPM), um departamento de recursos humanos.

Nesses locais, o dono da Tesla busca mapear três informações cruciais: gastos em programas, com mão de obra e prédios públicos, na intenção de exterminar o máximo possível de todos.

Segundo os jornais americanos, Musk tem seguido uma cartilha em quase todas as agências por onde passa: instalar pessoas leais na liderança que não necessariamente têm permissão de acesso aos locais restritos; varrer dados internos, incluindo os sensíveis e confidenciais; ganhar controle do fluxo de fundos. Algumas dessas ações, no entanto, estão sendo contestadas na Justiça.

O temor de opositores, críticos e até de alguns aliados de Trump é do tamanho do poder que o bilionário está recebendo ao acessar e utilizar informações confidenciais. Além disso, embora diga que seus cortes visa trazer maior eficiência ao orçamento do governo, críticos apontam um viés ideológico de suas escolhas.

Nesta terça-feira, 11, Trump assinou uma ordem executiva que força as agências federais a trabalhar com o DOGE em uma tentativa de cortar sua força de trabalho existente e limitar futuras contratações.

Colher dados para cortar

Para o seu plano de redução de gastos, Musk precisa, primeiro, identificar como ocorrem os fluxos de caixas das agências e departamentos e partir disso, fazer os cortes. Para saber, seu departamento tem colhido quantidades robustas de dados pessoais e financeiros de milhares – ou milhões – de americanos. Quem se nega a fornecê-los, é demitido ou afastado logo em seguida.

Segundo relatos ao The Washington Post de funcionários das agências alvos do DOGE, seus agentes chegam rápido, contornando funcionários de TI de nível inferior. Membros da equipe recebem então contas de usuário, permitindo-lhes acessar e editar enormes volumes de dados governamentais com pouca ou nenhuma supervisão. Isso permite que eles façam mudanças em velocidade relâmpago, contornando protocolos de segurança típicos e alarmando funcionários governamentais encarregados de manter os dados sensíveis seguros.

A intenção, de acordo com fontes ouvidas pela The New York Times, é injetar ferramentas de inteligência artificial nos sistemas governamentais, usando-as para avaliar contratos e recomendar cortes. Thomas Shedd, um ex-engenheiro da Tesla que foi escolhido para liderar uma equipe de tecnologia na Administração de Serviços Gerais (GSA), disse a alguns membros da equipe que esperava colocar todos os contratos federais em um sistema centralizado para que pudessem ser analisados por inteligência artificial, disseram as fontes ao jornal.

O caso mais emblemático foi no Departamento de Tesouro, onde membros do DOGE estavam colhendo e processando uma quantidade imensurável de dados financeiros dos americanos. No fim de semana, porém, um juiz federal proibiu a equipe de Musk de ter acesso aos dados do Tesouro, ordenou que informações já colhidas fossem apagadas e limitou Trump de autorizar pessoas a tais acessos a informações restritas. Não está claro, porém, se o governo vai acatar a decisão e quais seriam as consequências de não fazê-lo.

Nesta terça-feira, a equipe do empresário anunciou uma série de cortes do departamento de Educação, totalizando mais de US$ 900 milhões, aparentemente com o objetivo de prejudicar o braço de pesquisa do departamento, o Instituto de Ciências da Educação. No dia anterior, o departamento havia comunicado o encerramento de 89 contratos, bem como 29 bolsas associadas a treinamento em diversidade e equidade.

Demissões em massa

A mão de obra das agências federais também está na mira da navalha de Musk. No começo deste mês, ele anunciou o fim da USAID, agência responsável por levar ajuda internacional a outros locais. O site do órgão foi derrubado minutos depois e mais de 2 mil funcionários foram afastados. Uma decisão da Justiça impediu que os empregados fossem colocados em licença, mas os trabalhos da agência pararam em boa parte do mundo. Segundo o próprio bilionário, “a USAID foi colocada no triturador”.

A investida contra a USAID retrata o forte corte do funcionalismo público que pretende fazer, de reduzir pelo menos 10% da força de trabalho federal. No fim de janeiro, o governo americano disparou um e-mail comunicando um plano de demissão voluntária para mais de 2 milhões de funcionários da administração em troca de oito meses de salário. O programa foi paralisado por uma decisão da Justiça, mas deve ser apenas o primeiro passo antes de demissões involuntárias em massa.

Segundo o Post, o plano de Musk incluiria contratações novas ou pessoas com avaliações de desempenho insatisfatórias. Sindicatos chegaram a aconselhar trabalhadores a fazer o download de suas avaliações de desempenho e arquivos pessoais em preparação para terem as informações usadas contra eles.

A demissão em massa reproduz a ofensiva do bilionário contra o antigo Twitter, renomeado pra X, quando foi comprado por Musk, que realizou a demissão de 75% do pessoal.

Além disso, de acordo com os jornais americanos, associados do DOGE têm alimentado vastos recursos de registros governamentais e bancos de dados em ferramentas de inteligência artificial, procurando programas federais indesejados e tentando determinar qual trabalho humano pode ser substituído por IA, ferramentas de aprendizado de máquina ou até mesmo robôs.

No Escritório de Gestão de Pessoal (OPM), por exemplo, membros da equipe do DOGE ganharam a capacidade de deletar, modificar ou exportar as informações pessoais de milhões de trabalhadores federais e candidatos a empregos federais.

Prédios públicos

Sem poder investir no programa de demissão voluntária, e equipe de Musk tem apostado em formas menos ortodoxas de forçar as demissões. Uma delas é fechar escritórios próximos e deslocar trabalhadores para locais mais distantes de seus postos atuais de trabalho na intenção de aumentar seus deslocamentos e tornar a manutenção no emprego insuportável, segundo o Post.

Ele também pretende atacar outro do que considera um mal do gasto público: os imóveis. “Nós ouvimos deles que eles querem fazer os prédios tão ruins que as pessoas vão embora,” disse um oficial sênior na GSA, que gerencia a maior parte da propriedade federal. “Eu acho que esse é o objetivo maior aqui, que é trazer todos de volta, os prédios vão ser péssimos, seus deslocamentos vão ser ruins.”

Esta estratégia de forçar demissões permitirá a Musk e Trump cortarem gastos federais sem precisar passar pela aprovação do Congresso, como manda a Constituição.

Na GSA, o administrador interino Stephen Ehikian — um ex-executivo do Vale do Silício — e outros nomeados por Trump têm agido agressivamente para cortar custos em pelo menos 50%, em parte eliminando metade de todo o imobiliário federal em todo o país. Essa medida foi detalhada em um e-mail para a equipe de imóveis por Michael Peters, o novo chefe do serviço de prédios públicos.

A mensagem parece ter sido deliberadamente projetada para aumentar a rotatividade. Em um e-mail, Ehikian advertiu sobre uma “probabilidade muito alta” de que as 2 mil pessoas que moram a mais de 80 quilômetros de um posto de serviço seriam designadas para mais longe como parte de seu esforço para reorganizar a agência. A equipe não saberia se foi transferida, digamos, da Carolina do Norte para o Colorado até dias depois de terem que decidir se aceitam a oferta de Musk para renunciar com o pagamento de oito meses.

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Com NYT e W.POST

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