Hospital Materno Infantil de Brasília. Foto: reprodução

Secretaria de Saúde do DF admite déficit de pessoal. SindMédico afirma que as nomeações não passam de reposição da força de trabalho que se aposenta ou pede exoneração

Por Redação

A falta de condições adequadas de trabalho nas unidades públicas de saúde e a política de gestão de pessoas do atual governo têm sido determinantes para que concursados deixem de assumir, após serem aprovados.

Nesta sexta-feira (27) a reportagem do CB acompanhou o funcionamento pediátrico no HMIB e no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). A reportagem flagrou que de fato o atendimento não está acontecendo. Uma placa improvisada no HMIB alerta: “Os pacientes classificados nas cores azul e verde (casos de baixo risco) não serão atendidos”.

Na porta da emergência pediátrica do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), dezenas de pais se amontoam em busca de atendimento para seus pequenos. Vários deles peregrinaram por outras unidades de saúde da rede pública e voltaram para casa sem atendimento. A crise na pediatria chegou a um ponto que crianças esperam mais de oito horas para se encontrar com o médico.

Médicos, enfermeiros e vigilantes confirmam que a situação não está boa. Sob a condição de não ter a identidade divulgada, eles detalham o calvário da pediatria. “Tem sido recorrente pacientes graves serem mandados para casa. Uma criança chegou a convulsionar enquanto esperava atendimento”, detalha uma profissional do HMIB. Na emergência infantil do HRAN, a história se repete. “Às vezes fico sem saber o que fazer”, diz a médica.

Dr. Gutemberg Fialho, presidente do SindMédico-DF. Foto: Agenda Capital

De acordo com o presidente do SindMédico do DF, Gutemberg Filho, o sindicato tem alertado constantemente as autoridades sobre a falta de pediatras na rede pública de saúde. Para Gutemberg, os profissionais pediatras relatam que os problemas da categoria são recorrentes. “Houve diminuição do quadro de médicos por aposentadoria, demissão por falta de condições de trabalho, além do aumento do número de atendimentos sem ajuste no quadro de pessoal”, disse.

“Na verdade, se faz muito barulho por muito pouco, pois as nomeações não passam de reposição da força de trabalho que se aposenta ou pede exoneração, em última análise nem precisaria ter saído do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal para fazer essas contratações”, destaca o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho.

Segundo relato de uma profissional médica que preferiu não se identificar, “faltam insumos, faltam leitos de UTI, dificuldade na remoção de pacientes, problemas de encaminhamento de uma regional para outra e insegurança para exercer a profissão. De acordo com esta profissional, os médicos do HMIB são constantemente ameaçados.

A via crúcis é uma realidade para a pedagoga Daiane Freires Lima, 31 anos, e seu marido, o nutricionista Wendel Pinho, 34. Durante três dias ela tenta atendimento médico. O filho dela, Luiz Paulo (02 anos), está com febre e vômitos contínuos. “Bate um desespero. O que eu vou fazer com a criança doente?”, reclama. A família percorreu mais de 80km, saindo de Santa Maria, passando por Taguatinga, Asas Norte e Sul. Ontem, ela  esperava havia mais de cinco horas no HMIB.

Problema generalizado

A situação delicada do atendimento infantil também se repete nos hospitais distantes da zona central da capital. Plantonistas detalharam a situação nessas unidades. No Hospital Regional de Planaltina (HRP), mais de 50 crianças viraram a madrugada de quinta para sexta-feira aguardando atendimento. No Hospital Regional de Sobradinho (HRS), outras 63 estavam na mesma situação. No HRT, pelo menos 40 esperaram atendimento e voltaram para casa sem tratamento.

Um dos casos do HRT é o da catadora de materiais recicláveis Poliana Pereira Mota, 28 anos. Ela saiu da Estrutural ainda na madrugada de ontem para procurar assistência médica. O termômetro marcava 39ºC de febre. Davi Henrique, 4 meses, está amuado. Não mama direito, tampouco dorme. “Cheguei ao HRT e tinha tanta gente. A enfermeira disse que meu filho merecia atenção, mas que não tinha condições de atendê-lo”, lamenta.

Outro lado

A Secretaria de Saúde do DF informa que os problemas estão relacionados ao deficit de pediatras. Atualmente, a rede pública conta com 579 profissionais. “De 2015 a 2017, foram admitidos 90 profissionais. Nesta semana, foi publicado edital de concurso para cargos efetivos com 72 vagas de ampla concorrência e outras 18 para pessoas com deficiência”, explica, em nota.

Da Redação do Agenda Capital com informações complementares do Correio

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