Lixo se espalha pelas cidades. Faltam barracas de inverno, água, aquecedores e banheiros. Foto: Alican Uludag/DW

Especialistas dizem que podem haver cavidades nos escombros com pessoas dentro. Mas, como as 96 horas críticas passaram e nenhum som pode ser ouvido

Por Alican Uludag de Hatay

Província turca de Hatay fica a 200 quilômetros do epicentro do tremor, mas a destruição ali foi grande. Muitos de seus moradores estão no relento há dias, desesperados e indignados.

“As equipes de resgate vieram e foram embora mais uma vez, porque não ouviram nada”, diz Semire Özalp, decepcionada. Ela aguarda por ajuda há dias. Seu filho de 25 anos ainda está sob os escombros no bairro de Armutlu, em Hatay, a província mais ao sul da Turquia. “Pelo visto eles não ouviram nenhum sinal”, diz, triste, à DW. “Mas no primeiro dia ainda havia um ruído”.

Özalp está desesperada, e mesmo no quinto dia após o terremoto implora às equipes para que procurem por seu filho. “Talvez ele não esteja morto, talvez consigamos encontrá-lo vivo.” Mas a equipe de resgate segue em frente. “Uma equipe chega, uma equipe vai, ninguém ajuda. Somos impotentes, não podemos fazer nada com nossas próprias mãos, precisamos de equipamentos”, diz, com voz trêmula.

Faltam pessoal especializado, máquinas e equipamentos, mas não só. Paralelamente às operações de busca, o caos reina em Hatay. Restos de alimentos e lixo estão por toda parte. Um forte cheiro de podridão se espalha. Não há água nem banheiros, e a cidade agora teme por um surto de doenças após o terremoto.

Falta de banheiros é o principal problema

Toda a área ao redor das barracas, que já são em número insuficiente, transformou-se em um depósito de lixo devido à falta de limpeza. Os corpos sob os escombros ainda não foram removidos, e a falta de banheiros e água encanada cria o risco de que doenças se espalhem. Nos parques onde barracas foram montadas, há apenas dois banheiros sem água corrente por dias, relatam alguns – mas as pessoas precisam usá-los. O serviço de limpeza municipal não está funcionando. As pessoas jogam seu lixo em volta das barracas, e pilhas de lixo estão se acumulando.

Um jovem que atua como voluntário diz: “Sobrevivemos ao terremoto, mas temos medo de pegar uma doença. Eu mesmo sobrevivi ao terremoto, e queria trabalhar como voluntário. Agora mesmo, queria comprar um saco de lixo. Mas não há sacos de lixo”, disse. “Tudo está muito ruim. Estamos em uma situação sanitária péssima. Pode haver uma epidemia a qualquer momento. Cadáveres por um lado, lixo por outro.”

Muitos dos que sobreviveram aos tremores de terra continuam a lutar por suas vidas. O número de barracas fornecidas por organizações e pela defesa civil turca não é nem perto do suficiente, e muitos de Hatay reclamam. Aquecedores e geradores de energia também estão em falta. Nesse cenário, muitos preferem ficam ao ar livre, onde podem fazer uma fogueira. À noite faz muito frio, mesmo na cidade mais ao sul da Turquia.

Faltam barracas de inverno, água, aquecedores e banheiros. Foto: Alican Uludag/DW

Ajuda distribuída sem coordenação

A defesa civil turca está sobrecarregada, e a coordenação em Hatay não parece funcionar. Embora existam barracas no centro da cidade, ninguém da agência está lá para liberá-las para distribuição. A ajuda que chega em caminhões de fora da cidade é distribuída de forma aleatória, e roupas e pacotes de alimentos que não são pegos acabam espalhados nas tendas ou nas ruas.

O bairro mais afetado é Armutlu. Há uma emergência humanitária, e apenas alguns partidos políticos de esquerda e outros grupos estão prestando ajuda. Como ainda não foram montadas barracas, as pessoas buscam refúgio no mercado coberto de Armutlu. Médicos voluntários aparecem de vez em quando e tentam trocar curativos e prestar ajuda médica mais urgente para os feridos. Uma idosa está há dias deitada em um carrinho de mercado com um braço quebrado.

Yusuf Yildiz senta-se na sarjeta com uma expressão desesperada no rosto. Apenas 16 pessoas foram resgatadas do bloco de apartamentos onde viviam seus parentes, cerca de 80 pessoas. Os demais ainda estão soterrados. Yildiz olha para os escombros.

Quem ainda está soterrado?

Mesmo que o número de equipes de resgate aumente a cada dia, ainda há muitos moradores sob os edifícios desmoronados. É dada prioridade aos locais onde podem ser ouvidos sons e gritos de socorro.

Mas mesmo nos destroços dos quais nada pode ser ouvido ainda há pessoas enterradas. Alguns moradores já resgatados continuam orientando equipes de busca. pedindo-lhes que procurem por seus entes queridos.

Especialistas dizem que podem haver cavidades nos escombros com pessoas dentro. Mas, como as 96 horas críticas passaram e nenhum som pode ser ouvido, já começaram em algumas localidades os trabalhos para remover os destroços com maquinário pesados de construção.

À medida que as máquinas levantam concreto, entulho e ferro, surge um quadro de horror. Pessoas que jaziam esmagadas sob os escombros. O cheiro de corpos em decomposição se espalha. A retirada pode levar dias, dias que seus parentes terão que suportar. No entanto, eles não perdem a esperança de que os mortos logo encontrarão a paz.

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Da Redação com informações do DW e Agências

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