Foto: Reprodução Instagram.

Ex-presidente do PP, ministro completou um mês à frente da Casa Civil no sábado (28/8), tentando distensionar relação com Congresso e STF

Por Flávia Said

No primeiro mês despachando no Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), recebeu políticos de 15 siglas, incluindo algumas que não integram a base de apoio do governo, como PDT e Novo, mas privilegiou seu partido, o PP. Foram 24 reuniões com políticos do Progressistas (veja detalhamento na tabela abaixo).

O ministro abriu grande espaço em sua agenda para reuniões com parlamentares, segundo registros da agenda oficial divulgada pela equipe da Casa Civil. No total, foram 49 reuniões com parlamentares, das quais 34 com deputados federais, 14 com senadores e uma com um deputado estadual.

Congressistas se queixavam da falta de tato político do antecessor, o general Luiz Eduardo Ramos, amigo pessoal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e reclamavam de ausência ou falha de diálogo.

O próprio presidente Bolsonaro admitiu que o antecessor de Ciro tinha “dificuldade” no “linguajar com o Parlamento” e disse que Ramos seria um ministro “nota 9”, porque falta a ele mais conhecimento para conversar com parlamentares.

Ministro-Chefe da Casa Civil Ciro Nogueira. Foto: Reprodução.

Tido como “político profissional”, Ciro Nogueira chegou em um momento em que o chefe do Executivo nacional vê sua popularidade derreter. A missão é melhorar a interlocução com o Congresso, inclusive com o Senado, Casa da qual teve de se licenciar para assumir o posto na Esplanada. Senadores vinham se sentindo preteridos pelo Palácio do Planalto, até pelo fato de ainda não haver, até a chegada de Ciro, um político originário do Senado no alto escalão do governo.

No período inicial à frente da pasta, Ciro recebeu três presidentes de partido — André Fufuca, seu sucessor no PP; Valdemar Costa Neto, presidente do PL; e Paulinho da Força, do Solidariedade.

Também houve espaço especial na agenda do ministro a políticos do Piauí. Foram sete encontros com conterrâneos, além de uma viagem realizada ao estado no segundo fim de semana de agosto.

Apesar de se reunir com frequência com Bolsonaro e de acompanhá-lo em agendas externas, Ciro adota postura mais discreta. Ele, inclusive, ainda não participou de nenhuma das transmissões ao vivo que Bolsonaro realiza semanalmente.

Com agenda intensa, em um único dia, ele chegou a receber em seu gabinete na Casa Civil 16 políticos. Algumas dessas agendas duraram apenas 15 minutos.

Na cerimônia de posse, realizada uma semana após sua nomeação, ele disse que seria o “amortecedor” do presidente Bolsonaro. Mostrando o prestígio de uma das principais lideranças do Centrão, a posse contou com número grande de autoridades e convidados no Palácio do Planalto, em uma das cerimônias mais cheias desde o início da pandemia.

“Eu gostaria que toda vez que vossa excelência me visse lembrasse de um amortecedor. Acho que é assim que posso ser mais útil ao Brasil, ao governo de vossa excelência, à política e às instituições neste momento de grandes trepidações”, declarou o ministro na ocasião.

A fala foi repetida em outros momentos, inclusive quando ele recebeu de presente um amortecedor verde e amarelo de um aliado. Segundo a coluna do jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, o ministro demonstra levar a sério seu mote: deixa o amortecedor exposto em seu gabinete no Planalto, perto dos sofás, para que todos os visitantes vejam.

Outras agendas

Além das agendas com parlamentares, Ciro Nogueira também recebeu três governadores nesse período inicial na Casa Civil: seu correligionário Gladson Cameli, do Acre; Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas; e Mauro Mendes (DEM), chefe do Executivo estadual de Mato Grosso. Também se reuniu com dois prefeitos: Bruno Reis (DEM), de Salvador, e Joel Pinheiro (PP), de Floriano, no Piauí.

Pelos registros oficiais, Ciro esteve em reuniões com o presidente Bolsonaro ao menos 11 vezes. Além das agendas políticas, o compromisso que aparece mais vezes é o denominado “despacho interno”, quando o ministro costuma se reunir com integrantes de seu gabinete. Ele ainda compareceu a 10 cerimônias ou solenidades no Planalto e em outros locais.

Na condição, de “amortecedor”, ele tentou distensionar relações sensíveis do chefe do Executivo federal. Logo nos primeiros dias, ele se reuniu com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na Câmara dos Deputados. No último dia 16, Ciro também se reuniu com Lira e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na residência oficial da Câmara dos Deputados, no Lago Sul, em Brasília.

Segundo reportagem da TV Globo, o objetivo foi estabelecer um canal de diálogo em razão da instabilidade provocada pelas declarações de Bolsonaro. O encontro não foi incluído na agenda oficial do ministro.

Dias depois, Ciro foi até a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), para encontrar o presidente, ministro Luiz Fux, em uma tentativa de acalmar os ânimos em razão de declarações do presidente da República contra integrantes da Corte. Na ocasião, ele pediu remarcação da reunião entre os chefes dos três poderes, que ainda não foi remarcada.

Ciro Nogueira também encontrou o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), em um momento crítico da relação do general com Bolsonaro. Na ocasião, dirigiu-se até o anexo onde despacha o vice para tratar com ele, por cerca de meia hora, sobre a conjuntura política e social.

Bolsonaro tem relatado irritação com seu vice, pelo fato de Mourão ter se reunido com o ministro Luís Roberto Barroso, que articulou com dirigentes partidários a derrubada da PEC do Voto Impresso na Câmara.

Em outra demonstração de prestígio, Ciro foi homenageado em um almoço com o chanceler Carlos França e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, no Palácio Itamaraty.

*Com informações do Metrópoles

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