Fábio Gondim. Foto: Agenda Capital

Os métodos eleitorais utilizados visam a cooptação de cidadãos que são mais fragilizados. A gente tem uma quadrilha que antes roubava bancos, traficava drogas, grilava terras e encontrou na política uma forma de ter grandes quantidades de dinheiro. A renovação da política provavelmente não acontecerá nestas eleições (Fábio Gondim).

Por Delmo Menezes

Brasiliense, casado, pai de três filhos, servidor público do Senado Federal desde 1999, engenheiro por formação, tendo se especializado na área de orçamento e planejamento. No ano de 2000 foi nomeado pelo ex-presidente José Sarney, como consultor-geral de orçamento do Senado. Este é o perfil profissional de Fábio Gondim, ex-secretário de Planejamento e Fazenda do Maranhão no governo de Roseana Sarney e ex-secretário de Saúde do DF no governo de Rollemberg.

Nesta quinta-feira (09), Fábio Gondim (PSDB), abriu as portas de sua bela casa no Lago Sul, para receber a reportagem do Agenda Capital, para uma entrevista exclusiva. Gondim falou sobre temas importantes como aborto, família, política, sua passagem como secretário no Maranhão e no DF, e seu rompimento com o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB).

Leia a entrevista na íntegra:

AC – Me fale um pouco sobre a sua passagem pelo governo de Roseana Sarney no Maranhão?

FG – Em janeiro de 2000, atuei em um projeto chamado Siga Brasil, que era um programa de informações gerenciais, para elaboração de orçamento. Esse sistema foi um sucesso no início e depois evoluiu com novas tecnologias. Proporcionava conhecimento sobre a execução do orçamento de todos os órgãos da união. Devido ao sucesso deste programa e o meu trabalho como consultor-geral do Senado, o então presidente da Casa, José Sarney, me convidou para tratar do assunto na gestão de sua filha Roseana Sarney no Maranhão. Na época me lembro bem o que o ex-presidente me disse: “Olhe, a Roseana está precisando da sua ajuda lá no Maranhão. Você pode ajudar? Falei posso”. Pensei que era uma consultoria onde ficaria no máximo três dias. Me lembro que isso era numa terça-feira, e no dia seguinte já estava em São Luiz. Consegui falar com a governadora somente na parte da tarde. Ela falou bastante dos problemas, e eu esperando que ela me trouxesse os dados para realizar uma auditoria. Depois de mais de uma hora de conversa eu falei assim: “Governadora eu confesso que ainda não entendi qual será minha missão aqui”. De pronto ela respondeu: “Sua missão é assumir a Secretaria de Planejamento”. No momento começou a passar um filme na cabeça, analisando a minha vida totalmente organizada em Brasília. Não gostei do convite, porém não sabia como escapar do mesmo. Afinal de contas, o presidente do Senado Federal e ex-presidente da república havia determinado que viesse ao Maranhão. Falei para a governadora que precisava de uns dias para pensar, pois tinha família. Ela falou para voltar logo, porque necessitava de mim com urgência. Resumo da ópera. Eu fui assumir este desafio. Fui secretário de Planejamento, Administração, Fazenda, Previdência, Casa Civil e tudo isso num curto espaço de tempo, menos a Casa Civil que fiquei por 01 ano.

AC – E no DF, qual o foi seu principal desafio à frente da Secretaria de Saúde?

FG – Assumi uma secretaria totalmente desestruturada. Mas tive também problemas com algumas pessoas que após 06 meses do meu trabalho, começaram a demonstrar que eram pessoas inadequadas no local e não tinha condições de mantê-las na equipe, por vários motivos, entre os quais, comportamento e por serem desagregadores. Então você tem uma equipe que está sob tensão total, debaixo de “paulada”, com todo tipo de dificuldades, e temos ainda tem que aguentar gente arrumando confusão, semeando discórdia, “aí não dá”. Chegou num ponto que ficou insustentável! Uma dessas pessoas é o Marcello Nóbrega que está aí aparecendo na mídia com algumas coisas negativas, e a outra pessoa que pedi para tirar foi o Ricardo.

AC – Essas pessoas foram exoneradas?

FG – Não. O governador não acatou minha demanda e aí passou uma semana, duas, três e quem resolveu pedir demissão fui eu, porque achava que não dava para continuar, até porque eu ficaria desmoralizado.

AC – Então o senhor está me dizendo que o chefe do Executivo não lhe deu autonomia?

FG – Verbalmente ele deu autonomia, mas na hora que eu fui fazer o papel de gestor com autoridade inerente ao cargo que exercia, eu já não consegui fazer. E o clima ficou meio tenso de maneira que se eu tivesse aceitado continuar na secretaria, sem que os dois saíssem, eu estaria desmoralizado. Nem adiantava mais ser secretário, então fiz uma opção muito lúcida, muito rápida inclusive. Quando percebi que não iria ter força para tirar os dois eu preferi sair. Achei que era o melhor pra mim, pra secretaria, para os servidores e para a população.

AC – Mudaria algo que não deu certo na Saúde?

FG – Mudaria ou deixaria de fazer ou agiria diferente. Algumas coisas eu faria diferente sim. Olhando para trás, sabendo o que eu sei hoje, tiveram alguns episódios que não atuaria da mesma maneira. Alguns arrependimentos. Alguns tem a ver com a secretaria, outros de cunho pessoal. Uma viagem por exemplo para Itália com a família, quando o governador me chamou para assumir a secretaria. Minha esposa viajou sozinha com meus filhos. Hoje não faria isso.

AC – Após a sua gestão, houveram avanços ou retrocessos?

FG – Considerando que em 08 meses eu reestruturei toda a parte administrativa da secretaria, segreguei funções, criamos o regimento interno da secretaria, avançamos bastante. Pegamos o subsecretário de atenção à saúde, que era um médico, que cuidava de estoque, medicamentos, hotelaria, caldeira, ou seja, nunca conseguia cuidar de protocolo clínico, não conseguia ter tempo para padronizar medicamentos, não conseguia pensar na vocação de cada unidade de saúde ou na coordenação das especialidades médicas. Tiramos isso. A gente reestruturou. Agora o cara da logística é o responsável por essas coisas. O médico tem tempo de cuidar de outros assuntos. Nós deixamos o Hospital do Câncer com projeto executivo pronto, com dinheiro de emenda coletiva para início da construção em 2016. Estamos em 2018, e ainda não foi feito. As pessoas morrendo de câncer! Na minha opinião piorou muito, houve retrocesso.

AC – A classe médica é acusada de corporativismo e de querer controlar a Rede. O Senhor percebeu isso?

FG – As pessoas se agrupam, se juntam e procuram defender seus interesses. Sendo os médicos uma das profissões mais importantes da área da saúde, a gente não pode deixar de entender isso, pois sem médico não tem medicina. Eu tenho que ser justo nisso aí. Na minha gestão na secretaria não vi isso que as pessoas falam dos médicos. O que observei foi uma equipe altamente comprometida, preparada, afim de acertar.

AC – O senhor é contra ou a favor do Instituto Hospital de Base?

FG – Sou contra, pelo mérito e pela forma como estão fazendo. A maneira como as coisas estão sendo conduzidas é absurda. Primeiro você faz a propaganda do Instituto, e logo instala, sem saber nenhum dado estatístico, quantos atendimentos poderiam ser realizados na sua capacidade máxima. Qualquer instituição privada, vai querer cobrar pelo atendimento. Como gestor público, não sou contra os modelos de gestão, porém dizer que a gestão direta é uma forma impossível de administrar a saúde, como foi dito pelo atual secretário a pouco tempo, é um absurdo que pensei nunca mais ouvir.

AC – Vamos falar um pouco sobre sua candidatura à Câmara Federal. O que lhe motivou disputar uma eleição?

FG – Quem me conhece sabe que falava que não seria mais candidato. Porém fui vendo o andar dessa operação Lava Jato, e acompanhando a política de Brasília de perto, de bom e de ruim, e vi que o Brasil precisa de pessoas de bem. Pessoas experientes, que tenham Deus no coração. Acho que agrego algumas qualidades que posso de fato entrar e ajudar. Durante meu trabalho a vida toda, nunca tive interesse pessoal. Não vou ganhar mais, não preciso ser eleito para ter acesso à cargos altos, moro na mesma casa que construí com o suor do meu trabalho.

AC – Caso seja eleito, quais serão suas principais propostas?

FG – Fortalecimento das instituições que agregam o combate a corrupção, vou apoiar aquelas 70 medidas da transparência internacional para o combate a corrupção, redução de cargos comissionados em relação aos efetivos para evitar que eles sejam utilizados como cabos eleitorais na reeleição de políticos. Apoio a Lava Jato. O Brasil precisa passar pelo menos mais 10 anos de Lava Jato para limpar toda sujeira.

AC – Como o senhor avalia o atual quadro político do país?

FG – É um quadro surreal, inacreditável. A nossa política derreteu. A gente tem uma quadrilha que antes roubava bancos, traficava drogas, grilava terras e encontrou na política uma forma de ter grandes quantidades de dinheiro com orçamento público, e ainda serem chamados de excelências com imunidade parlamentar e foro privilegiado. Uma coisa de louco é o que está acontecendo no Brasil. Todos os órgãos estão aparelhados para funcionar em torno deste objetivo que é captar recursos e viabilizar uma eleição ou reeleição. É o poder pelo poder.

AC – Dá para acreditar que realmente vai haver renovação nestas eleições?

FG – Infelizmente não acredito neste ano. Tenho certeza que ela virá. Não será fácil e , provavelmente não será nessas eleições. Porque os métodos eleitorais que são utilizados visam muito a cooptação de cidadãos que são mais fragilizados, mais suscetíveis ou não tem a compreensão do que estão fazendo, ou estão muito necessitados e acabam cedendo às tentações. Então o cara vai lá e compra todos os votos. Quem tem dinheiro se elege sim, talvez não para uma eleição majoritária, mas para uma eleição proporcional, elege sim. As mudanças da legislação eleitoral, fortaleceram ainda mais a possibilidade de reeleição dos que já estão aí. Você tem o recurso federal, e os partidos quase na sua totalidade estão destinando esses recursos aos deputados os senadores que já tem mandato. A renovação fica bem prejudicada.

AC – O senhor tem religião?

FG – Sou católico praticante.

AC – É a favor ou contra a descriminalização do aborto?

FG – Sou contra sim. Eu entendo que em algumas situações as mães sofrem bastante. Mas acredito que a gente não pode determinar o rumo da vida. Acho um absurdo o que está acontecendo. Sem mudança na legislação, sem uma ampla discussão pela sociedade, através de uma decisão judicial, estão querendo mudar todo o entendimento, ou seja, o judiciário começou a legislar no Brasil. Acho que isto é um equívoco do qual a sociedade possa se arrepender. Os conceitos morais da sociedade estão sendo torcidos em várias áreas.

AC – De Fábio Gondim para Fábio Gondim.

FG – Sou uma pessoa extremante altruísta, tenho prazer imenso de ajudar o próximo, quem convive de perto sabe que sou assim. Raramente eu penso em mim. Sempre o meu desejo é o bem para os outros. Quero ser eleito para fazer as coisas de maneira diferente. Não quero ser comparável em nada de tudo que está aí. Nem nos métodos eleitorais e nem nos métodos de trabalho. Acredito de verdade que nós podemos mudar o Mundo. As pessoas me acham um pouco utópico. Se o mundo melhora é porque a gente muda ele todos os dias. Então não tem porque ter pessimismo, a gente tem que ter fé e força!

Da Redação do Agenda Capital

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