Por Daniel Leite*
O curso superior em Gestão em Serviços Jurídicos tem provocado discussões calorosas no meio acadêmico e profissional. Como uma graduação relativamente nova, sua proposta é formar gestores capacitados para organizar e otimizar os serviços em escritórios de advocacia, departamentos jurídicos de empresas, tribunais e outras instituições relacionadas ao sistema de justiça.
Apesar de sua relevância potencial, a profissão ainda enfrenta preconceitos e carece de regulamentação própria. Atualmente, o Conselho Federal de Administração acolheu a categoria, oferecendo um primeiro suporte institucional.
No entanto, há um sentimento de que precisamos de uma representação mais específica e autônoma para atender plenamente às demandas da profissão. A criação do curso foi oficializada pela Portaria do MEC nº 1.095, de 25 de outubro de 2018, que estabelece as diretrizes para sua implantação e funcionamento.
A preocupação de algumas categorias tradicionais, como advogados e gestores administrativos, de perderem espaço no mercado é compreensível. A presença de um profissional focado na gestão estratégica de escritórios e fluxos jurídicos é vista por alguns como uma interferência em funções que antes eram desempenhadas por eles.
Entretanto, o diferencial do gestor em serviços jurídicos está na especialização. Esses profissionais são treinados para modernizar a estrutura administrativa de organizações jurídicas, implementando soluções tecnológicas, otimizando processos e contribuindo para a eficiência geral das operações.
A proposta de modernização, inclusive, está alinhada com legislações recentes que exigem maior transparência e organização em órgãos e empresas.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é um exemplo, pois exige que as organizações tenham profissionais preparados para lidar com a gestão de informações sensíveis, uma área onde os gestores em serviços jurídicos podem atuar com destaque. Apesar disso, os desafios ainda são grandes.
Relatos de egressos destacam que a falta de reconhecimento por parte de empregadores e a pouca divulgação das competências do curso dificultam a inserção no mercado.
O sucesso depende, em grande parte, de estratégias como marketing pessoal, networking e a capacidade de demonstrar os benefícios práticos da formação.
A consolidação dessa profissão também passa pelo fortalecimento da identidade da categoria, que deve lutar por um conselho próprio e buscar reconhecimento legal.
Além disso, é fundamental que as instituições de ensino promovam o curso de maneira clara, evidenciando seus diferenciais e a contribuição única desses profissionais para a modernização do setor jurídico.
Dessa forma, os gestores em serviços jurídicos têm um longo caminho a percorrer para consolidar sua posição no mercado, mas possuem também um potencial enorme de transformar a maneira como os serviços jurídicos são organizados e geridos no Brasil.
*Daniel Leite – Bacharel em direito, tecnólogo em gestão de serviços jurídicos, pós-graduado em direito penal. Atualmente exerce o cargo de gerente de políticas público no governo. Colunista do Agenda Capital