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A ideia é fazer um “pay-per-view” da saúde, em que clientes montam o plano de atendimento conforme seu interesse

Por Redação*

As operadoras dos planos de saúde enviaram ao Congresso uma proposta para abrandar as regras e permitir a criação de planos individuais de saúde “sob medida”. Esses teriam menor cobertura â por exemplo, sem tratamento para câncer ou renal, ao gosto do cliente â e menor preço. E os reajustes seriam caso a caso. Especialistas na área veem risco de prejuízo para o consumidor.

A ideia apresentada ao Congresso e ao governo federal é facilitar a oferta de contratos individuais, com menor cobertura e mensalidades mais baixas. Assim se criariam convênios que não cobririam câncer, por exemplo, algo vetado pela lei atual

A ideia apresentada pelo grupo é facilitar a oferta de planos individuais, permitindo a criação de contratos com menor cobertura e mensalidades mais baixas.

Caso a solicitação seja atendida, será possível a oferta de planos para atender apenas determinados tipos de doença – como cardíacas ou renais – ou para procedimentos específicos. A ideia é fazer um “pay-per-view” da saúde, em que clientes montam o plano de atendimento conforme seu interesse e pagam de acordo com as opções que incluírem.

Se a proposta for aceita, poderá haver no mercado convênios que não façam atendimento para câncer ou problemas renais, por exemplo. Pacientes que necessitarem do tratamento, e não tiverem previsão de cobertura, terão de recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Especialistas em saúde preventiva e direito do consumidor ouvidos pelo Estado dizem temer que, uma vez aceita essa modalidade, planos deixem de colocar no mercado modalidades de coberturas que impliquem tratamentos muito caros. Ou, então, que cobrem preços proibitivos.

Pela proposta, esses novos contratos não responderiam às regras atuais para reajuste. Os porcentuais seriam determinados caso a caso, de acordo com a característica de cada carteira. Operadoras reivindicam ainda o fim da proibição do reajuste por idade para usuários com mais de 60 anos, a possibilidade de o setor privado “alugar” equipamentos do SUS para atender clientes, a permissão do uso da telemedicina, prazos mais longos para a regra que fixa um limite de espera para a obtenção de uma consulta ou terapia e punições mais leves em caso de descumprimento de regras.

Uma carta com as diretrizes gerais foi encaminhada para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEMRJ). O assunto também é debatido por um grupo restrito de parlamentares. De acordo com assessores de Maia, ele ainda não fez uma análise aprofundada do tema. A intenção de operadoras é de que a pauta comece a ser debatida tão logo a reforma da Previdência seja concluída.

Governo. A reportagem apurou que parte das mudanças conta com o apoio do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que no passado foi presidente da Unimed. O setor tem ainda outro aliado no governo: Rogério Marinho, atual secretário especial de Previdência. Há dois anos, como deputado federal, Marinho foi relator de um projeto na Câmara para reformular a atual Lei de Planos de Saúde.

Em vigor desde 1998, essa legislação fixa garantias mínimas de atendimento para usuários. Atualmente não é permitida a existência de planos segmentados que ofereçam, por exemplo, apenas alguns tipos de consultas. Há ainda a garantia de acesso a um rol mínimo – uma lista de exames e terapias que são de oferta obrigatória. O rol é atualizado periodicamente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

O relatório apresentado por Marinho apresentava muitas semelhanças com as sugestões agora feita pelas operadoras de saúde. Na época, no entanto, a discussão não avançou, uma vez que havia resistência de empresas que atuam como administradoras de planos.

O presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Reinaldo Scheibe, avalia que o relatório inicial era muito extenso, o que aumentava os riscos de pontos divergentes. A estratégia agora é apresentar uma proposta enxuta, com pontos em que todo o setor esteja de acordo.

O Estado teve acesso à carta encaminhada para o Legislativo com as principais reivindicações. Com 11 páginas, o documento sugere ainda a reativação do Conselho de Saúde Suplementar, uma instância que, para analistas, esvaziaria as atribuições da ANS. Caberia ao conselho definir as estratégias principais do setor, incluindo as regras para reajustes de planos.

Procurado, o ministro da Saúde afirmou que não teria como comentar as propostas neste momento. Mandetta argumentou que planos são de responsabilidade da ANS, quando envolvem resoluções e normas para o setor, e do Congresso, em relação à legislação.

Como funcionariam esses novos planos individuais?

A proposta das operadoras é que contratos individuais possam ter um “plano de entrada”. São os que oferecem, por exemplo, apenas consultas. Aqueles interessados em ter uma assistência maior poderiam agregar módulos – por especialidade ou por tipo de atendimento -, internação ou consultas com especialistas.

Como seria o reajuste?

Esses novos contratos não responderiam às regras atuais para reajuste. Os porcentuais seriam determinados caso a caso.

E os demais pontos?

Operadoras reivindicam ainda o fim da proibição do reajuste por idade para usuários com mais de 60 anos, a possibilidade de o setor privado “alugar” equipamentos do SUS para atender clientes, a permissão do uso da telemedicina, prazos mais longos para a regra que fixa um limite de espera para a obtenção de uma consulta ou terapia e punições mais leves por descumprimento.

Como fica a regulação?

Haveria a reativação do Conselho de Saúde Suplementar, o que pode afetar atribuições da ANS.

*Com informações o Estadão

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