O presidente da Câmara, Arthur Lira, na chegada ao Congresso. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Por Vera Rosa*

Uma imagem, na política, vale mais do que mil palavras. Vinte e quatro horas depois de ter feito um discurso interpretado como ultimato ao governo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), foi ao Palácio do Planalto desfazer o “mal estar” com o presidente Jair Bolsonaro. Na prática, Lira disse que não quis dizer o que disse quando lembrou que o Congresso tem o poder de aplicar “remédios políticos amargos, alguns fatais” para o inquilino do Planalto.

A avaliação predominante entre deputados e senadores ouvidos pelo Estadão, no entanto, é a de que o Centrão não tardará a abandonar Bolsonaro se perceber que sairá na foto como sócio de um fracasso. No momento em que o Brasil contabiliza a trágica marca de mais de 300 mil mortes pela covid-19, o Centrão é pragmático: ou o presidente confere autonomia para que o bloco dê as cartas ou vai largá-lo à própria sorte. “No Nordeste, a gente diz que vai com o amigo até a beira da cova, mas não entra nela”, resumiu um importante integrante desse grupo.

Horas após o presidente anunciar, anteontem, a criação de um comitê para coordenar as ações de combate à pandemia do novo coronavírus, ficou evidente para a cúpula do governo que o Centrão vai apresentar uma fatura alta. Na lista da cobrança está a troca de ministros, a começar pelo chanceler Ernesto Araújo, da ala ideológica do governo. “Posições político-partidárias, ideológicas, não vão ser o norte para a gestão dessa crise”, disse Lira, ao criticar a “falta de diálogo” do Itamaraty com EUA, China e Índia para a compra de vacinas.

Nas redes sociais, seguidores de Bolsonaro passaram a carimbar o presidente da Câmara – eleito para o cargo sob a chancela do Planalto – com o rótulo de “traidor”. Embora tenha assegurado não haver rusgas com Bolsonaro, Lira não falou de improviso ao alertar que iria “apertar um sinal amarelo para quem quiser enxergar”.

Na política de “morde-e-assopra”, o presidente da Câmara não mencionou a palavra impeachment e nem precisava. Há mais de 6o pedidos desses repousando sobre a sua mesa. Hoje o Centrão avalia que não é o momento de esticar mais essa corda nem de investir em CPI da Pandemia. Amanhã, ninguém sabe.

Com informações do Estadão

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