Marcela Temer. Foto; Reprodução

Por Luiza Sahd / Universa *

Após anos gritando “Fora Temer” ao vento e à toa, a população foi surpreendida com a prisão do ex-presidente Michel Temer na manhã de ontem (21). A gente sabe que nenhuma instituição brasileira funciona normalmente neste momento — a não ser os memes de internet. Nesse caso, tivemos um fenômeno no mínimo curioso: parte massiva das piadas com a detenção do emedebista envolviam sua esposa, Marcela. Toda a galhofa em torno de Marcela envolvia a situação de “atual solteirice” da ex-primeira dama, com montagens insinuando que ela estaria no Tinder, com um sujeito segurando a placa “vale night para Marcela” atrás de jornalista fazendo cobertura ao vivo, com o Supremo, com tudo.

No meio de uma vexaminosa e interminável crise política, o pessoal priorizou bastante o interesse em torno da vida sexual da esposa de Temer. Por um lado, sabemos que Marcela sempre foi tratada pela opinião pública como um bonito adereço ao lado do marido, nada além disso. É evidente que o casal reforçou esse tratamento, inclusive quando não protestou contra a pecha de “bela, recatada e do lar”, em 2016. Nesse contexto, o mistério que permanece sem resposta é: por que as pessoas que discordam dessa ideia de mulher no papel de poodle de marido seguem especulando sobre a vida de Marcela sem o companheiro em casa?

Na internet, se lê de tudo. Já li hoje que Marcela é evidentemente cúmplice de Temer — e que, portanto, dane-se o respeito à intimidade dela; já li que ela é uma mulher branca e privilegiada e que, nesse caso, não é uma coitada. Acredito que ela não seja mesmo. Nem por isso, passa a ser razoável usar a sexualidade ou o capital erótico dela como munição para atingir ninguém.

A gente já soube ser mais objetivo nas ofensas: quem quiser ofender Marcela com um pingo de razão precisaria, no mínimo, falar sobre o que ela fez de errado efetivamente (tipo acobertar falcatruas políticas) — e não sobre o que ela faz com o corpo ou o desejo dela.

Não faltam razões para a gente driblar essa piada de mau gosto. Mais do que ferir à Marcela em si, o tiro acaba ricocheteando em todas as mulheres, porque reforça uma ideia muito caída de que somos como propriedades dos nossos companheiros. Usar a esposa para ferir a honra de um cara parece argumento de novela de época. Fora isso, sejamos honestos: se Marcela fosse uma senhora da idade de Temer, ninguém estaria lá muito interessado na vida sexual dela daqui pra frente.

O problema de toda a especulação em torno da sexualidade de Marcela é que, de novo, estamos tratando a vida sexual de uma mulher atraente como assunto de domínio público. Estamos há anos brigando contra a objetificação de mulheres para, agora, objetificar a mulher do Temer sem perceber que é um tiro no pé? Não é possível.

Eu, como mulher que curte bem um meme ou uma piadinha bem feita, sigo confiante que podemos fazer coisa melhor na internet.

Da Redação com informações do Universa Via UOL

(*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Agenda Capital)

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