Classificado recentemente como possivelmente cancerígeno, o aspartame está em diversos produtos do dia a dia, inclusive em itens de higiene; mas o limite seguro de consumo é elevado

Por Thaís Manarini e Fabiana Cambricoli

Um trabalho minucioso de revisão da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), órgão vinculado à Organização Mundial de Saúde (OMS), acaba de colocar o aspartame na categoria de agentes “possivelmente cancerígenos”. Significa que as evidências de que ele causa câncer são limitadas – tanto em animais como em seres humanos.

De olho nos achados da Iarc, o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) não mudou o limite diário considerado seguro para consumo, que é de 40 miligramas por quilo de peso corporal. Um adulto de 70 quilos poderia, portanto, ingerir até 2 800 miligramas desse adoçante ao dia.

O aspartame é um dos adoçantes mais populares do mundo. Ele é conhecido por ter um poder de dulçor 200 vezes maior do que o açúcar. “Uma quantidade muito pequena já gera um sabor equivalente ao do açúcar”, conta a farmacêutica Mariah Ultramari, diretora da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTOX).

Mas a estrutura do adoçante se quebra em temperaturas muito elevadas, o que leva a uma perda nessa capacidade de adoçar. Por isso, não é recomendado usá-lo em receitas que vão ao forno. Na indústria alimentícia, ele é um dos adoçantes mais incorporados aos produtos – entre os mais conhecidos está a Coca-Cola Sem Açúcar.

Além de fazer parte da fórmula de refrigerantes sem açúcar, o aspartame pode aparecer na fórmula de diversos outros produtos industrializados. Alguns exemplos:

  • Outras bebidas sem açúcar, como sucos e chás
  • Preparados de café e capuccino
  • Geleias
  • Sorvetes
  • Barras de cereal
  • Cereais matinais
  • Gomas de mascar
  • Gelatinas
  • Iogurtes e outras bebidas lácteas
  • Molhos
  • Chocolates

Para além dos alimentos

A nutricionista Letícia Carniatto, do A.C.Camargo Cancer Center (SP), conta que também dá para encontrar o aspartame em itens como a pasta de dente. Mas, segundo ela, isso não é motivo para preocupação. “A quantidade absorvida, ou seja, que ingerimos pela saliva, é muito pequena”. O adoçante pode surgir ainda em pastilhas para dor de garganta.

De qualquer forma, Letícia lembra que o limite considerado seguro para a ingestão do adoçante é elevado. É improvável que alguém extrapole a dose, mesmo colocando os itens alimentícios na conta.

Como o limite de ingestão é definido

De acordo com Mariah, os valores de ingestão máxima de aspartame foram definidos a partir de estudos em animais. Eles receberam concentrações diferentes do adoçante ao longo de toda a vida. A partir disso, os cientistas identificaram a quantidade que não causava nenhum efeito colateral – e, adaptando diversos fatores, extrapolaram isso para os seres humanos.

Segurança do adoçante não é motivo para exagerar

Em maio, a OMS declarou que usar adoçantes artificiais não auxilia na perda de peso nem na prevenção do diabetes. Agora, o aspartame é considerado possivelmente cancerígeno.

“Por mais que seja um alerta, a pergunta que fica é: se não há benefícios, e ele pode vir a ser considerado cancerígeno, por que consumir?”, questiona a nutricionista Maria Eduarda de Melo, da Área Técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca). “O melhor é evitar”, afirma.

Até porque grande parte da ingestão do aspartame no dia a dia vem dos produtos ultraprocessados, que têm sido associados a inúmeros problemas de saúde, como obesidade, doenças cardiovasculares e até câncer.

Para aqueles que já têm diabetes e precisam evitar o açúcar, o adoçante pode seguir sendo usado, contanto que os limites recomendados de consumo diário não sejam ultrapassados.

Como surgiu o aspartame

Em 1965, o químico James M. Schlatter estava atrás de tratamentos contra úlceras e misturou dois aminoácidos, o ácido aspártico e a fenilalanina – os aminoácidos são os componentes que formam as proteínas. Conta-se que, nesse momento, o químico colocou o dedo na mistura – e decidiu experimentar. Schlatter percebeu que o gosto era agradável. E, assim, segundo relatos, nasceu o aspartame. Em 1974, a FDA, agência que regula medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, aprovou seu uso como adoçante de mesa e na incorporação em alimentos.

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Com Estadão

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