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Modalidades de teleatendimento reduzem fila e esclarecem casos com mais rapidez

Por Estadão

Imagine um grupo de médicos, cada um em uma cidade do Brasil, trocando informações por voz, vídeo e imagem. A cena é mais trivial do que o futurismo profetizado no cinema, mas esse contato virtual é faceta das práticas da telemedicina no País. Desde junho de 2018, o Ministério da Saúde, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desenvolve o projeto Regula+Brasil, cujo objetivo é reduzir as filas de espera no Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo o coordenador de Inovação e Tecnologia do Sírio, Cesar Biselli, a telemedicina coloca o paciente no lugar certo, na hora certa. “Este é um dos lemas do programa: otimizar o atendimento e usar os meios disponíveis para isso”, explica. “Muito se fala que é preciso investimento robusto para a prática da telemedicina, mas se houver acesso a um smartphone e internet, é possível fazer muita coisa boa.”

Biselli conta que, só em 2019, dos 181.597 casos encaminhados ao Regula+Brasil, 62.489 foram aprovados para consultas mais específicas após a aplicação de protocolos de teleatendimento ou discussão telefônica. Os outros dois terços (mais de 60%) foram atendidos via atenção primária. Apenas com uma triagem mais certeira, os casos mais graves viram a fila de espera para consultas e exames cair de 163 dias para apenas 6.

Atualmente, o programa funciona em unidades de saúde do Amazonas e do Distrito Federal, e nas cidades de Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS). Uma cidade do Nordeste deve ser a próxima a ser incluída no mapa do Regula+Brasil.

Para Cesar, o acesso a médicos do Sírio em 13 especialidades, dando suporte à rede do SUS, é uma ferramenta que só tende a beneficiar a troca de informações e a rapidez nos diagnósticos. “Vivemos em um país continental, onde os serviços não chegam de maneira distribuída. Algumas iniciativas da telemedicina podem ajudar a diminuir custos e entregar mais valor à sociedade.”

O conselheiro federal do Conselho Federal de Medicina (Cremesp), Aldemir Soares, que participou de um painel sobre o tema no Estadão Summit Saúde 2019, concorda. “A tecnologia entra nas comunidades onde há carência de um médico em tempo integral e também quando as distâncias geográficas entre a comunidade e um ponto de atendimento médico viram uma barreira.”

Tecnologia na pele. Além do Regula+Brasil, existem outras iniciativas no Brasil que já se beneficiam de práticas da telemedicina. O Hospital Israelita Albert Einstein investe no segmento por conta própria desde 2012 e uma das especialidades atendidas é a dermatologia.

Por meio de um produto criado pelo hospital com foco na figura do médico de família, os profissionais do Einstein conseguem orientar o médico da Unidade Básica de Saúde a ir por três caminhos: agendar e aguardar a consulta com um dermatologista, fazer o tratamento indicado pelo médico de família com auxílio de um especialista e, em casos mais graves, como suspeita de melanoma, ser encaminhado com urgência para a cirurgia. A avaliação é feita com fotos enviadas por mensagem de celular.

Em 2017, a teledermatologia do Einstein encaminhou e resolveu de 69 mil casos dermatológicos na cidade de São Paulo. Neste ano, a iniciativa foi levada para a região de Catanduva, no interior do Estado.

Também desde 2017, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, utiliza um programa voltado à especialidade da dermatologia. Trata-se da plataforma DermatoNet, desenvolvida para auxiliar médicos do SUS na identificação de doenças de pele e no melhor encaminhamento dos casos. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, que participa da iniciativa, foram realizados 5 mil teleatendimentos no Estado entre fevereiro de 2017 e março de 2019.

Não há dados consolidados sobre diminuição de filas em postos de saúde, mas, segundo o coordenador do projeto, Natan Katz, foi possível observar sua diminuição, uma vez que a triagem mais assertiva faz com que tanto o paciente quanto o médico ganhem em tempo e qualidade no atendimento. A Coordenadoria de Telemedicina da universidade também tornou disponível o auxílio à oftalmologia e estuda implementar teleatendimento para casos de tuberculose.

Cautela com os avanços. Apesar da euforia com os avanços tecnológicos e os benefícios prometidos, parte da comunidade médica pede cautela. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Mario Jorge Tsuchyia, admite que a telemedicina é irreversível e uma realidade, mas é preciso um debate mais aprofundado antes de ela ser regulamentada no Brasil.

“Precisamos caminhar passo a passo com a regulamentação. E um assunto muito amplo. Não vamos conseguir fazer tudo de uma vez. Para que a sociedade se beneficie e tenha segurança, esse é o ponto de maior preocupação para o conselho regional”, diz Tsuchyia. “Enquanto não houver redução dos riscos dessa nova tecnologia ; será difícil a regulamentação. E preciso discutir e definir qual o melhor formato. A sociedade precisa participar desse processo.”

A visão mais crítica de Tsuchyia, que debateu o tema no painel que abriu o Estadão Summit Saúde 2019, “O que Esperar da Telemedicina no Brasil”, se dá pelo alto custo de implementação das tecnologias e pelos problemas estruturais do Brasil, como a falta de unidades básicas de saúde e acesso ruim à internet em boa parte do País.

Da Redação com informações do Estadão

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