Serviços que cobram uma mensalidade baixa em troca de um pacote de consultas virtuais ou de descontos têm crescido durante a pandemia
Por Estadão
Com a regulamentação da
telemedicina e o aumento da procura por atendimento remoto no cenário de
pandemia, vem ganhando espaço no mercado de saúde brasileiro serviços que
cobram uma mensalidade baixa em troca de um pacote de consultas virtuais ou de
descontos nesse tipo de atendimento.
A lógica é parecida
com iniciativas surgidas nos últimos anos para atrair pessoas que não têm plano
de saúde, mas nem sempre querem esperar por procedimentos mais simples no Sistema Único de Saúde (SUS), como consultas ou exames. Foi nessa esteira que as
clínicas populares e os cartões de desconto ganharam milhões de adeptos.
A novidade agora é
ampliar esse tipo de serviço para os atendimentos online.Tais iniciativas
costumam receber críticas de especialistas em saúde e entidades de defesa do
consumidor pelo fato de o atendimento ser limitado a casos de baixa
complexidade, o que deixaria o paciente desprotegido. Como o pacote oferece
apenas consultas (ou no máximo, exames) sem custos ou a preços baixos, o
cliente precisa estar ciente de que, se tiver um problema mais grave, não terá
uma retaguarda hospitalar ou outras coberturas que as operadoras de planos de
saúde são obrigadas a garantir.
Já os clientes, em
sua maioria da classe C, são atraídos pelos valores baixos das mensalidades e a
facilidade de ter acesso mais fácil a um atendimento médico online. De olho
nessa tendência, até mesmo instituições tradicionais, como o Hospital Albert
Einstein, e empresas que originalmente não atuavam na área da saúde, como o
UOL, entraram no ramo.
O serviço de
telemedicina do Einstein é um dos pioneiros no País, mas, até este ano, estava
disponível apenas aos clientes de planos de saúde premium que têm direito ao
atendimento no hospital. Há alguns meses, a instituição firmou uma parceria com
a empresa Vale Saúde Sempre, que já atuava no ramo de cartões de desconto para
assistência médica, mas com foco em consultas presenciais.
Com a parceria, o
cliente da Vale Saúde, que antes tinha a opção do plano clássico com
mensalidade de R$ 29,90 para ter acesso a consultas com desconto, tem agora
como contratar um plano com direito a atendimento a distância com médicos do
Einstein, por uma mensalidade de R$ 44,90.No caso do UOL Med, a mensalidade é
ainda menor: a partir de R$ 12,90 para acesso a consultas presenciais e
virtuais com desconto.
A empresa, que
lançou o produto em junho, não informa quantas pessoas assinaram o serviço, mas
projeta uma base de 100 mil clientes até o fim do ano.A dr. Consulta, uma das
maiores redes de clínicas populares do País, firmou parceria com a startup Yalo
para oferecer planos que dão desconto nas consultas, tanto presenciais quanto
online. Pagando uma mensalidade de R$ 31, cada atendimento sai por R$ 40.
A startup Dandelin
trabalha com uma mensalidade mais alta, de R$ 100, mas, ao se associar, o
cliente tem um número ilimitado de consultas sem custos extras. “Já
oferecíamos o serviço desde 2018 para consultas presenciais, mas mais focado em
São Paulo. Com a possibilidade da telemedicina, essa barreira geográfica não
existe mais e estamos oferecendo o serviço para todo o País”, explica Mára
Rêdiggollo, cofundadora e diretora de operações da empresa.
Ela diz
que, hoje, poucos meses após o lançamento do serviço de consultas online, 80%
dos atendimentos intermediados pela plataforma são virtuais.Já a startup
Bellamaterna, de orientação online para gestantes e mães de crianças pequenas,
que antes só atuava no mercado B2B, prestando serviços para clientes de planos
de saúde, já anunciou que passará a oferecer o produto para o consumidor final.
Com consultas online ilimitadas e sem custo, os planos terão mensalidades a
partir de R$ 60. “Nos últimos meses, abrimos a plataforma gratuitamente
para orientações relacionadas a covid e vimos uma grande procura. Já pensávamos
em entrar no mercado B2C no ano que vem, mas, diante da demanda, vamos
antecipar para agosto”, explica o CEO da companhia, Ricardo Franco.
Alerta
Para Mário
Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP), o consumidor deve ficar atento às limitações dos serviços do tipo, já
que não estão sujeitos às mesmas regulamentações dos convênios. “Esses
descontos nada têm a ver com planos de saúde, não garantem a qualidade do
atendimento nem coberturas e não cumprem a lei da saúde suplementar”,
destaca o especialista.
*Com informações Estadão Conteúdo