Biden rejeita enviar tropas de resgate em caso de invasão russa. Ao âncora Lester Holt, presidente dos EUA afirma que a situação pode ‘sair do controle rapidamente’.

Por Redação*

WASHINGTON— O presidente dos EUA, Joe Biden, advertiu que os cidadãos americanos na Ucrânia devem deixar o país imediatamente, acrescentando que não vai enviar soldados para resgatar aqueles que queiram fugir do país no caso de uma invasão russa.

Os cidadãos americanos devem sair agora — disse Biden em entrevista ao âncora Lester Holt, da NBC News, divulgada nesta quinta-feira. — Não é como se estivéssemos lidando com uma organização terrorista. Estamos lidando com um dos maiores Exércitos do mundo. É uma situação muito diferente, e as coisas podem sair do controle rapidamente —afirmou em aparente comparação à saída desastrosa do Afeganistão, que pôs fim a 20 anos de ocupação no ano passado.

Segundo a NBC News, Holt perguntou a Biden se havia algum cenário que poderia levá-lo a enviar tropas para resgatar americanos em fuga.

Não há. Há uma guerra mundial quando os americanos e a Rússia começam a atirar um contra o outro — respondeu Biden, acrescentando: — Estamos em um mundo muito diferente de antes.

As declarações foram divulgadas no mesmo dia em que a Rússia e a Bielorrússia deram início a grandes exercícios militares em solo bielorrusso, no momento em que Moscou e países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) trocam acusações sobre a suposta iminência de uma invasão russa à Ucrânia. Ao mesmo tempo, militares ucranianos também realizam suas próprias manobras, e o governo de Kiev afirma que as ações russas configuram “pressão psicológica”.

Antes da divulgação dos trechos da entrevista, o Departamento de Estado americano havia transmitido um comunicado pedindo aos americanos para deixar a Ucrânia, pontuando que “não será possível retirar cidadãos americanos se houver uma ação russa em qualquer lugar da Ucrânia”.

Segundo a NBC, o Exército e a Inteligência dos EUA avaliam que o Exército russo poderia lançar uma invasão em escala total, com tanques que potencialmente poderiam chegar à capital Kiev dentro de 48 horas.

Durante a entrevista à NBC, Biden afirmou que, se o presidente da Rússia, Vladimir Putin, é “tolo o bastante para entrar (na Ucrânia), ele é bastante inteligente para não fazer qualquer coisa que possa impactar negativamente os cidadãos americanos”.

— Você já lhe disse isso? — questionou Holt.

— Sim —  respondeu Biden.

— Você lhe disse que os americanos são uma linha que eles (os russos) não podem cruzar? — continuou Holt.

— Eu não precisava dizer isso a ele, já falei sobre isso. Ele sabe disso — respondeu Biden.

Manobras militares

Os exercícios russos, chamados de “Resolução Aliada”, estavam previstos e devem durar dez dias. Eles serão realizados nas regiões Oeste e Sul da Bielorrússia, perto das fronteiras com a Polônia e com a própria Ucrânia. Nas últimas semanas, imagens de trens carregando equipamentos militares e tropas de várias divisões russas mostraram a escala das manobras — oficialmente, a Rússia não fala em números, mas a Otan aponta que são cerca de 30 mil militares, no que seria uma das maiores mobilizações desde o final da Guerra Fria, nos anos 1990.

A realização de manobras dessa escala, no momento em que a Rússia é acusada de planejar uma invasão maciça à Ucrânia, vem provocando reações duras das nações europeias e dos EUA. A França, país que vem liderando as iniciativas diplomáticas durante a crise, chamou os exercícios de “um gesto violento”. À Reuters, um integrante do Departamento de Estado americano afirmou que eles são “altamente incoerentes com os argumentos de transparência sobre grandes exercícios militares na Europa”, e que isso é uma “má notícia”.

As manobras também são vistas com receio por sua localização: alguns dos exercícios previstos ocorrerão perto da fronteira com a Ucrânia, a cerca de 100 km de Kiev. Dessa forma, o governo ucraniano afirmou que a presença de tantos militares na área corresponde a uma “pressão psicológica”.

“Não há nada de novo aqui. Quanto aos riscos, existem e nunca cessaram desde 2014”, afirmou, em nota, a Presidência da Ucrânia, referindo-se ao ano em que ocorreu a anexação da Península da Crimeia pela Rússia e teve início a guerra no Leste do país entre separatistas pró-Moscou e o Exército ucraniano. “A questão é o nível dos riscos e a maneira como reagimos.”

Durante uma tensa reunião com a chanceler britânica Liz Truss, em Moscou, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse que as críticas ocidentais não têm sentido, e que era direito soberano dos países determinar a duração e a localização de exercícios militares. Ele ainda afirmou que todos os militares russos voltarão a suas bases assim que as manobras terminarem, e aproveitou para atacar a presença da Otan em áreas próximas às fronteiras russas.

Ao contrário dos exercícios em seu território, que a Rússia realiza e depois as tropas retornam às bases, aquelas tropas que estão muito além do território de Reino Unido, Estados Unidos e Canadá são enviadas para os países bálticos, para países na costa do Mar Negro. Essas tropas e armas nunca voltam para casa — declarou o ministro.

Paralelamente, a Rússia e a Ucrânia anunciaram que fracassaram em obter qualquer avanço durante um dia de negociações entre autoridades da França e da Alemanha com o objetivo de pôr fim a um conflito separatista de oito anos no Leste da Ucrânia. A falta de progresso marcou um percalço para os esforços de pôr fim à crise mais ampla vinculada ao posicionamento de mais de 100 mil soldados russos perto das fronteiras da Ucrânia.

Em Berlim, o enviado russo, Dmitry Kozak, anunciou no fim da noite desta quinta que não foi possível conciliar as diferentes interpretações de Rússia e Ucrânia em relação a um acordo de 2015 que teve o objetivo de acabar com o conflito entre separatistas pró-Rússia e forças de Kiev.

*Com G1 e Agências Internacionais 

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