Delegado de Polícia Civil do DF, Miguel Lucena.Foto: Agenda Capital

Por Miguel Lucena

Ninguém vive bem sem segurança em lugar nenhum. As pessoas a caminho do trabalho, professores e alunos nas escolas, médicos, enfermeiros e pacientes em hospitais, os pais que ficam aflitos, a dona de casa que cozinha com medo de ter sua casa invadida por ladrões e estupradores, motoristas e cobradores de ônibus, comerciantes e transeuntes, padre, pastor e mãe-de-santo, com seus fiéis na missa, culto ou terreiro.

A segurança é uma muleta psicológica de que as pessoas necessitam para desempenhar suas atividades a contento, sem aquele olhar tenso e desconfiado de quem caminha rezando para que nada de pior lhe aconteça.

Uma delegacia que fecha por falta de efetivo causa enormes transtornos na vida de uma comunidade. Imagine ter de deslocar-se para outra localidade a fim de registrar uma ocorrência de furto ou roubo. A dificuldade leva à desistência e, por conseguinte, à subnotificação, levando os governantes de plantão a comemorar uma mentira, que é a falta de registro de casos reais computada como redução dos índices de criminalidade.

“Não vi, não voga”, eis a máxima dos afeiçoados a estatísticas, uma febre que tomou conta das secretarias de segurança Brasil afora. É como o juiz que acredita piamente na não ocorrência do fato só porque a prova não está nos autos, embora haja um corpo estendido no chão.

As armas continuam matando, mas são armas ilegais. As legais foram devolvidas durante a campanha de desarmamento. No entanto, os bandidos e os traficantes das feiras do rolo espalhadas pelo Planalto Central conservaram as suas, intactas.

Os homicídios cresceram no DF: os consumados subiram de 30, em maio deste ano, para 36, em junho, enquanto os tentados foram de 64 para 68. Alguns inocentes foram mortos, mas 90% dos casos envolveram criminosos que usaram armas ilegais, coisa que o governo local tem receio de falar, talvez para não desagradar sua base ongueira de sustentação.

Os estupros também aumentaram, chegaram a 415 no primeiro semestre, numa média de 2,3 estupros por dia. Se contarmos a subnotificação em dez vezes mais, seriam 23 estupros diários e 4.150 no semestre. E o pior é saber que 70% desse tipo de crime ocorre dentro de casa, tendo crianças indefesas como vítimas, e nenhuma campanha de respeito é realizada pelo Estado e ONGs para proteger as vítimas e orientar as famílias na prevenção.

É legítimo dizer a homens e mulheres: não levem desconhecidos para perto de seus filhos, eles correm perigo!

Enquanto roubos e furtos aumentam, o governo queda-se, inerte, como se tivesse sido intoxicado por veneno de baiacu.

Miguel Lucena, é Delegado da Polícia Civil do DF, Jornalista e Colunista do Agenda Capital

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here