Cicatrizes da Vida

“Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença”. (Salmos 42:5).

Por Delmo Menezes*

Quem não tem pelo menos uma cicatriz na pele, na alma, no coração, que atire a primeira pedra. Claro que todos carregamos uma ou várias delas. Cicatrizes são fruto dos perrengues da vida, das lutas, dos embates.

Todos nós temos lembranças de acontecimentos que marcaram nossas vidas. Geralmente lembranças que ficaram na memória, desde a infância.

Muitas pessoas foram marcadas pelas cicatrizes sofridas pelas perseguições, que lhe foram mais significativas do que a marca de um acidente. A vida nos deixa marcas, as quais geram cicatrizes que não se apagam.

Do ponto de vista psicológico, a cicatriz é um sinal ou vestígio de destruição ou dano. É a lembrança ou impressão duradoura de um golpe físico, moral ou psicológico. Muitas cicatrizes podem desaparecer com cirurgia plástica, nunca, porém, desaparecendo o trauma.

Do ponto de vista médico, cicatriz é o resultado de uma lesão da derme, geralmente em consequência de um acidente ou de uma incisão efetuada durante uma cirurgia. A cicatriz se forma depois de um tempo após o corte; se o corte for de pequenas dimensões, a cicatriz dura poucos dias, se for grave, porém, a cicatriz pode durar a vida inteira.

Existem histórias da vida real, de cicatrizes que deixaram marcas profundas na vida de muita gente. Pessoas que foram infectadas pela Covid-19, que contraíram AIDS, que sofreram abuso sexual ainda na infância, que perderam entes queridos de forma dramática, homens e mulheres que sofreram decepções nos seus relacionamentos familiares, etc. Algumas marcas ou cicatrizes ficam enterradas em nosso interior por longo tempo e depois provocam comportamentos e reações inexplicáveis.

“Quando decidimos agir, é natural que surjam conflitos inesperados.  É natural que surjam feridas no decorrer destes conflitos.  As feridas passam: permanecem apenas as cicatrizes”. (Paulo Coelho).

Com o advento da internet, as pessoas ficaram mais encorajadas em denunciar situações que antes eram de conhecimento de poucos. É o caso, por exemplo, de pessoas que usaram recentemente as redes sociais para denunciar casos de estupros, trazendo alívio para suas almas.

O renomado escritor François La Rochefoucauld, diz: “Os defeitos da alma são como os ferimentos do corpo; por mais que se cuide, as cicatrizes aparecem sempre  e estão sob a constante ameaça de se reabrirem”.

O que fazer com marcas tão indeléveis? “Dê de ombros”, viva a vida que Deus lhe deu, aprenda a rir de si mesmo, deixe de olhar pelo retrovisor, e viva em paz com suas cicatrizes. Não é saudável negá-las, apenas saiba que elas estão ali. Fazem parte de sua história, é verdade, mas não lhes conceda o direito de direcioná-lo pelo resto de seus dias. Cicatrizes são péssimas conselheiras. Creio que todos nós já ouvimos nossa mãe dizer: “Não mexa na ferida para não infeccionar”.

E para concluir, deixo aqui uma linda mensagem da poetisa e escritora portuguesa Rómy Pinto:

“São tantas as cicatrizes, que preenchem a minha alma… Com elas cresci, aprendi muitas lições e fui capaz de superar tantos obstáculos… Doeram tanto, é certo… Mas nada na minha vida seria igual, nada teria o mesmo valor se eu não tivesse sentido  as dores de cada uma dessas cicatrizes! Cicatriz é a certeza de que uma ferida rompeu, mas que com o tempo a mesma também secou, fechou para sempre e não existe mais. A minha força e coragem de hoje, nasceu da dureza dos espinhos que ontem cravaram e feriram a minha alma.”

*Delmo Menezes – Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais. Observador atento da política local e nacional, com experiência e participação política.