Foto: Delmo Menezes / Agenda Capital

Por Delmo Menezes

Servidora de carreira do Conselho Nacional de Justiça- CNJ, a jovem deputada Júlia Lucy (NOVO), abre as portas do gabinete nº 23 da Câmara Legislativa do DF, para conceder entrevista exclusiva ao portal de notícias Agenda Capital. Sempre solícita e atenta a tudo que se passa em seu gabinete, a distrital de primeiro mandato se orgulha de ter uma equipe técnica e sem influência política.

De origem humilde, mas sempre acreditando em seus ideais, Lucy passou a sua infância na Ceilândia e adolescência em Taguatinga. Atualmente a distrital mora no Guará.

“Em minha vida, busco causar impacto no mundo através das minhas ações, das minhas atitudes, do meu exemplo. Minha família é humilde e cristã, por isso sempre soube que deveria valorizar as oportunidades da vida e compartilhar com o próximo os bens que recebemos”, pontua a parlamentar.

Nesta entrevista, a distrital não se furta de responder a todos as perguntas, principalmente aquelas que dizem respeito a sua atuação na CLDF, como feminicídio, projetos de lei, “rachadinha”, e outros tema polêmicos.

Leia a entrevista na íntegra:

AC – Nesses 11 meses como parlamentar, a senhora tem adotado uma postura independente na CLDF. Qual o motivo?

Dep. Júlia Lucy – Eu fiz uma campanha independente, meu partido saiu sozinho no processo eleitoral. A vaga é nossa, a gente não faz parte de nenhuma coligação. Nosso compromisso é com o eleitor. Não tenho nenhum cargo no governo, não indiquei nenhum administrador regional, nenhuma dessas práticas será realizada por mim em nenhum momento. Então, a gente tem a condição de votar com o governo naquilo que acharmos positivo para a população, e de votar contra e criticar aquilo que acharmos que é negativo.

AC – Recentemente a imprensa tem divulgado supostos casos da famosa “rachadinha”. Isso não afeta a imagem do parlamento?

Dep. Júlia Lucy – Claro, com certeza. Afeta bastante porque há evidências concretas, assim como outras coisas afetam a imagem da Câmara. É triste dizer isso, mas muitas pessoas dizem que esta é a pior legislatura de todos os tempos. A gente observa pouquíssimos debates aqui dentro. A gente observa falta de criticidade em relação algumas atitudes do governo. O Executivo traz os projetos de uma forma muito repentina, que não estão bem construídos, sem condições de serem aprovados e mesmo assim a Câmara aprova. Muitas vezes eu sou a única parlamentar que dá um voto contrário.

AC – A senhora quase sempre se abstém ou vota contrário aos projetos do Executivo. Mesmo se for um projeto que vá beneficiar a população, a deputada vai votar contrário?

Dep. Júlia Lucy – Não. Na realidade o que eu voto na maioria das vezes é favorável. Eu me abstenho, eu voto contra, para os projetos dos meus colegas que em sua maioria são inconstitucionais, ou são apresentados em discordância com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ou afronta algum princípio do meu partido. O meu partido por exemplo, não pode votar a criação de um dia específico, ou uma data comemorativa. A gente entende que o parlamento tem muito mais trabalho a fazer do que ficar criando feriado, ficar criando dia. Nós também não votamos a indicação de cidadão honorário, porque a gente entende que todo cidadão tem o mesmo valor. Não temos que utilizar a máquina pública para enaltecer uma ou outra pessoa. Quando chega um projeto que não é liberal a gente vota contra, porque a gente não pode mais aceitar intervenção na atividade econômica. Nós não podemos aceitar o recrudescimento das relações entre os empreendedores e os cidadãos.

AC – Nas últimas sessões, temos presenciado um baixo quórum no Plenário da Câmara. Por que a ausência dos deputados?

Dep. Júlia Lucy – Posso falar por mim, estou sempre presente. Cumpro com o meu papel. A gente observa movimentos na Casa. As vezes um Bloco está presente, outro não está. Aí depende de quem pega o telefone, liga e o outro parlamentar desce.  É neste momento que as coisas são negociadas. A gente sabe que quando o Executivo tem interesse em aprovar uma pauta, é o momento que se vende caro o voto.

AC – A senhora poderia falar um pouco do seu projeto “Liga Delas”?

Dep. Júlia Lucy – A “Liga Delas” é um grupo que surgiu a partir da observação de que a gente tem uma baixíssima participação feminina nos eventos de empreendedorismo, inovação e tecnologia. Eu sempre gostei muito desses assuntos, sempre frequentei este meio, e aí surgiu um grupo de amigos focado nas mulheres, focado nestes temas. O objetivo é uma maior participação das mulheres. Este grupo vingou e se tornou uma escola de capacitação. Nós nunca utilizamos nenhum centavo de dinheiro público. Já capacitamos várias mulheres. É um trabalho que continuo fazendo. Sou a líder do grupo, então as atividades ficaram em segundo plano agora que assumi o mandato de deputada. Continuamos com uma agenda de palestras na Estrutural. Agora no final de ano iremos ter algumas atividades de encerramento de ano, e iniciamos o planejamento para o próximo ano, sempre com a ideia de tirar especialmente das mulheres, uma concepção de “vitimismo”, mostrando a elas que o empoderamento é de dentro para fora.

AC – Recentemente um líder religioso citou o seu nome por fazer campanha contraceptiva, no caso do uso de DIU. Como a deputada aborda este tema?

Dep. Júlia Lucy – Eu acho extremamente lamentável a postura desse padre, porque o DIU é um dispositivo ultra interino e ele tem uma função contraceptivo, então ele impede que haja a concepção. Nos casos que o DIU não consegue impedir a concepção, a mulher engravida. Então a gente está falando de um dispositivo que não é abortivo. O Ministério da Saúde diz isso. O Ministério que tem um Conselho de Saúde inclusive com líderes religiosos, referenda a disponibilização do DIU há 20 anos. Estamos falando de uma política de saúde de Estado, já testada e consolidada não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Os países que conseguiram diminuir o número de gravidez indesejadas, só conseguiram fazer isso porque eles massificaram o uso do DIU, e a gente tem que defender a liberdade das famílias se planejarem, quando querem ter seus filhos, em que momento querem ter seus filhos. Então foi muito triste a ação desse padre porque ele distorceu absolutamente a ação. Nós solicitamos a Secretaria de Saúde em virtude do outubro Rosa, que promovesse o mutirão de oferta do DIU, assim como já foram feitos vários mutirões este ano. Neste caso específico, o religioso se voltou contra, tentando criar uma imagem de que era uma política de controle de natalidade, que não tem nada a ver com nada. O planejamento familiar é uma liberdade garantida constitucionalmente a qualquer cidadão brasileiro.

AC – A Câmara Legislativa criou a CPI do Feminicídio que já está provocando polêmica? Na sua avaliação, esta CPI vai diminuir os casos de Feminicídio no DF?

Dep. Júlia Lucy – Não vai diminuir. Mas a CPI agora que já foi instalada, tem que cumprir o seu papel. É um absurdo que você não tenha as 03 mulheres da Casa na CPI. Estamos falando do combate do crime de ódio contra as mulheres, e você tem apenas uma mulher. Então hoje a CPI do feminicídio é motivo de chacota pela sociedade. Eu por exemplo, sou procuradora da mulher. Desde o início do ano, fizemos todo este levantamento que esta CPI está fazendo. Temos notas técnicas, um conjunto de dados já relacionados, aprovamos a semana que institui a Lei Maria da Penha nas escolas de nossa autoria. Estamos trabalhando na regulamentação da lei que institui a multa administrativa para o agressor da mulher. Estamos debruçados no tema há muito tempo, de uma forma muita técnica como é a marca de nosso mandato. Neste momento a CPI virou palanque para alguns parlamentares, porque tem apenas 01 mulher dentro dela. Foi dominada pelo governo, é só olhar a composição. Então a característica de realmente fiscalizar e diminuir o índice de feminicídio, a gente realmente não pode esperar da CPI tal qual ela funciona hoje.

AC – Como servidora pública, qual é sua avaliação sobre o recente pacote econômico do governo Bolsonaro enviado ao Congresso Nacional, especialmente em relação a reforma administrativa?

Dep. Júlia Lucy –Esta reforma apresentada pelo presidente Bolsonaro, precisa ser amadurecida. Nós do partido Novo iremos ser sempre favoráveis aquilo que traga responsabilidade fiscal para o Estado dentro de uma inteligência. A gente não pode dar tiro no pé. O servidor público é fundamental para o funcionamento do Estado, e não para o funcionamento dos governos. Entendemos que o servidor é aquela pessoa que carrega as políticas públicas de Estado, porque ele permanece no órgão. Eu como servidora sei muito bem disso. Eu acredito que a estabilidade não tem que ser para todas as carreiras. A estabilidade se transformou em muitos casos num verdadeiro mal, na medida que desestimula alguns servidores a continuar se capacitando, a darem seu melhor. O ser humano funciona com base em estímulo. No momento que você garante para a pessoa que ela tem seu emprego para o resto da vida, independente do resultado, é claro que o empenho dela vai diminuir. O serviço público tem outras formas de estimular o servidor. Eu sou do judiciário, e lá existe a cultura das funções de confiança. Então o servidor consegue ter um acréscimo no seu salário a depender ou não de sua função de confiança, que é uma coisa que funciona muito. A estabilidade muitas vezes se transformou num pacto pela mediocridade.

AC – A deputada tem outras pretensões políticas no futuro, ou vai para reeleição?

Dep. Júlia Lucy – Eu faço parte de um grupo político. Eu tenho uma função dentro deste grupo, e vai depender do que for interessante para o grupo. Posso dizer que sou bastante corajosa, não tenho medo de desafios, me sinto preparada para enfrentar qualquer tipo de campanha, mas nesse momento esta decisão ainda não foi tomada.

AC – Pretende continuar no partido NOVO ou se filiar a outra legenda?

Dep. Júlia Lucy – Eu gosto bastante do partido Novo. Admiro muito a concepção do partido, como ele funciona. O fato de ter voluntários trabalhando, eu me sinto muito feliz de estar dentro de uma proposta que é realmente diferente.

AC – Uma avaliação do seu primeiro ano como parlamentar na Câmara Legislativa?

Dep. Júlia Lucy – Eu já realizei algumas pesquisas, e fico muito feliz de ver o grau de satisfação que as pessoas têm em relação a nós. Desde o início do ano até agora, a gente paga um preço alto por mantermos uma postura independente, por fazer denúncias que devem ser feitas. Mas a gente constrói uma marca. E hoje a marca que a gente tem perante as pessoas é de credibilidade, confiança e respeito. Estou bastante satisfeita de ter conseguido mostrar o motivo de estar aqui na Câmara. Agora nosso objetivo é de expandir a nossa marca com o máximo de pessoas possível. Eu não vim de uma trajetória política. Eu entrei na política ano passado para ser candidata. Meu gabinete também é novo como eu, e com isso a gente viu a necessidade aprimoramento, mais não há qualquer tipo de desvio de conduta e finalidade dentro do gabinete. Então, o que a gente tem que melhorar é realmente o processo de trabalho, mas no resto estou bastante satisfeita.

Da Redação do Agenda Capital

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