As consequências negativas da oposição a qualquer custo, como a polarização da sociedade, a dificuldade em encontrar soluções consensuais, pode ter como consequência a perda de credibilidade dos opositores.
Por Delmo Menezes*
Certa vez, um cidadão desembarcou em um estado distante e foi logo perguntando: “Tem governo nesse estado?” Alguém respondeu imediatamente: “Tem sim! Claro que tem!” E o cidadão declarou: “Pois diga que eu sou contra”.
Alguns filósofos e intelectuais acham inteligente ser do contra. Muitos partidários também acham que ser do contra ganha adeptos e novos simpatizantes. Mas ser do contra a qualquer custo é bom ou ruim?
Alguém certa vez disse que ser oposição é a melhor coisa do mundo, porque você precisa apenas criticar e os incomodados que se defendam. Claro que não estou defendendo o direito universal das pessoas de se manifestarem sobre algo com que não concordam. Afinal, vivemos em uma nação livre e democrática, onde todos têm a liberdade de pensamento, expressa no Art. 5º da Constituição Federal.
Já dizia Millôr Fernandes: por mais violento que seja o argumento, por mais formulado, eu tenho sempre uma resposta que fecha a boca de qualquer um: “Vocês têm toda a razão”.
Quem atua em redes sociais já deve ter presenciado pessoas em discussões pelo simples prazer de ser do contra. Penso que não há nada errado em uma pessoa manifestar seu ponto de vista; o erro é não aceitar opiniões diferentes, argumentos diferentes dos seus.
A proliferação das redes sociais, ao mesmo tempo em que ampliou o acesso à informação e democratizou o debate, também contribuiu para a intensificação das polarizações. A facilidade de encontrar ecocâmaras, grupos onde as próprias opiniões são amplificadas e reforçadas, cria um ambiente propício para a radicalização e a intolerância. Nesse contexto, a oposição radical, ao invés de contribuir para o aprimoramento das políticas públicas, pode gerar um clima de hostilidade e dificultar a busca por soluções consensuais para os problemas da sociedade.
Alguns políticos adoram se posicionar contra determinados assuntos quando têm seus interesses contrariados. Aí está o lado ruim de ser do contra a qualquer custo. Tantos projetos bons para a nação poderiam ser aprovados, porém, por interesses mesquinhos e escusos de alguns, acabam ficando engavetados em alguma comissão.
Quando alguém busca somente seus próprios interesses, deixando de lado o coletivo, torna-se uma pessoa egoísta, que não possui nenhum propósito e está em busca apenas de notoriedade.
Temos visto políticos que, mesmo sendo de oposição, votam em projetos que trarão benefícios à população. Isso é bom e reflete a grandeza dessas pessoas que buscam, em primeiro lugar, o interesse maior da população, independentemente de serem situação ou oposição.
Por último, se você defende uma postura diferente, vá em frente e siga firme nesse propósito. Mas se todas as evidências demonstrarem que você está equivocado, então é melhor mudar. Pois, “não há mal nenhum em mudar de opinião, contanto que seja para melhor.” (Winston Churchill). O importante é buscar sempre um ponto de equilíbrio.
A oposição é fundamental para a democracia, mas a radicalização e a busca por divergências a qualquer custo podem prejudicar o debate público e a construção de um futuro melhor para todos.
*Delmo Menezes – Gestor público, jornalista, secretário executivo, teólogo e especialista em relações institucionais.
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