Em audiência de custódia ontem, funcionário de fazenda detido um dia antes confirmou que Lázaro estava escondido na propriedade. Juíza que ouviu dupla suspeita de ajudar o fugitivo considerou não haver elementos suficientes para manter empregado preso

Por Redação 

No dia seguinte à prisão de dois homens suspeitos de ajudar na fuga de Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, a dupla prestou depoimento na Justiça de Goiás. O fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, 74, e o caseiro Alain Reis de Santana, 33, que trabalhava com ele, foram ouvidos durante audiência de custódia. O mais novo foi liberado; o outro, preso e levado para a Unidade Prisional de Águas Lindas (GO). Por volta das 19h20, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) divulgou nota à imprensa informando que as equipes da força-tarefa seguem na tentativa de capturar o criminoso. Neste sábado (26/6), a caçada pelo fugitivo chega ao 18º dia.

As decisões da audiência partiram da juíza Luciana Oliveira da Silveira, da comarca de Cocalzinho (GO). No caso de Alain, a magistrada considerou que as acusações contra o caseiro eram “frágeis”, principalmente diante da relação hierárquica entre ele e o fazendeiro. “Não é possível extrair dos autos que ele (Alain) tenha aderido à suposta conduta do proprietário da fazenda de ajudar Lázaro. Quanto à arma e às munições, a posse não lhe pode ser estendida, porque foram encontradas no interior da Fazenda Caetano, que pertence ao outro autuado”, afirmou Luciana. “Sem indícios atuais de autoria, é o caso de autorizar a espera do desfecho do processo fora do cárcere, pois (…) a liberdade é a regra, e a prisão cautelar, a exceção”, completou a juíza.

A manutenção de Elmi Caetano na cadeia decorreu de indicativos da atuação do fazendeiro para favorecer Lázaro. Na audiência, ele teria admitido ser dono da arma e de “número significativo de munições” apreendidos. Além disso, a juíza encontrou “indícios de que ele, por vários dias, deu guarida, em sua fazenda, a criminoso que se supõe de altíssima periculosidade, investigado por praticar crimes gravíssimos e procurado, há mais de 15 dias, por força-tarefa que congrega centenas de policiais”. “Entendo estar presente o perigo gerado pelo estado de liberdade e serem insuficientes medidas cautelares não detentivas para resguardar os bens jurídico em tela”, justificou a magistrada.

Alain teve direito à liberdade provisória, enquanto a prisão de Elmi Caetano se converteu em preventiva. A defesa do fazendeiro pediu pela prisão domiciliar do cliente e alegou que os cuidados médicos na unidade prisional não seriam suficientes para garantir a saúde do acusado. A polícia deteve os dois na quinta-feira (24/6), por volta das 15h, na propriedade do fazendeiro, em Girassol.

Agressão

A audiência de custódia começou às 15h30, pela internet, com participação da promotora de Justiça Gabriela Starling Jorge Vieira de Mello, representante do Ministério Público de Goiás (MPGO). No depoimento, Elmi Caetano revelou ter sido agredido fisicamente por um policial no momento da prisão. No entanto, ele não soube informar o nome do servidor nem se era civil ou militar. Para todas as perguntas feitas durante a audiência, o suspeito disse não ter nada a declarar.

Alain contou que Lázaro comeu e dormiu na fazenda de Elmi Caetano por, ao menos, cinco dias. Além disso, o fugitivo teria ameaçado o caseiro com uma faca, na manhã de quarta-feira (24/6). O criminoso prometeu ir atrás da família de Alain, caso revelasse o paradeiro dele. No dia seguinte, o foragido correu para um dos quartos da casa, escondeu-se e fez sinal para que Alain saísse do imóvel, pois havia policiais na cerca da propriedade.

O funcionário falou às equipes de segurança que trabalhava no local e não tinha autorização para deixar os militares e agentes entrarem. Ele disse à juíza que não revelou aos policiais que Lázaro estava no endereço, devido às ameaças. Nos dias em que ficou na fazenda, o foragido usou camisa social preta, calça justa ao corpo, sapato e boné pretos. No momento da chegada da força-tarefa, o criminoso fugiu para um córrego.

Aplicativo

A SSP-GO informou que atua na mesma região desde quinta-feira (24/6), com cerco reforçado em determinadas áreas. Novamente, houve bloqueio na BR-070 e na entrada de fazendas em Girassol. Há dois dias, as equipes montaram uma blitz em uma estrada de terra em Luminosa, a cerca de 5km do distrito. A barreira, feita pela patrulha rural da Polícia Militar de Goiás (PMGO), separa o perímetro de buscas, com raio de 10km. A prisão dos dois suspeitos de ajudar Lázaro ocorreu nessa parte de Cocalzinho (GO).

Na nota, a pasta mencionou uma suposta carta escrita por Lázaro. O papel foi encaminhado para perícia, mas informações preliminares dão conta de que a caligrafia não condiz com a do fugitivo. O texto oficial da SSP-GO acrescenta que o aplicativo Brasil Mais Seguro, lançado especificamente para receber informações sobre as operações de busca ao acusado, teve cerca de 6,8 mil downloads desde que foi lançado, na quarta-feira (23/6). Contudo, até sexta-feira (25/6), não haviam chegado sinais que pudessem contribuir com a captura do procurado.

Auxílio a vítimas

Lázaro deixou um rastro de vítimas por onde passou. O primeiro crime da ficha policial do foragido é de 2007, quando ele matou dois homens em Barra do Mendes (BA), cidade onde nasceu. Depois disso, estuprou duas mulheres no Sol Nascente — uma em 2009, outra em 2021 — e matou quatro integrantes da família Marques Vidal, em 9 de junho. A partir dessa data, quando começou a fugir das equipes da força-tarefa que tenta capturá-lo, o acusado roubou dois carros e fez diversos reféns em Cocalzinho (GO).

Durante a fuga, também baleou quatro pessoas na cidade: três moradores de uma chácara — um dos quais continua internado — e um policial. Em entrevista coletiva na quinta-feira, o secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Rocha Miranda, afirmou que Lázaro pode ter cometido outros sete crimes antes da chacina em Ceilândia Norte. Os delitos, segundo o chefe da pasta, envolvem latrocínios e homicídios.

Para as vítimas dos casos registrados no Distrito Federal, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) disponibiliza uma equipe com psicólogo e assistente social do Programa Pró-Vítima. A pasta informou que tenta contato com “a família enlutada na chacina do caso Lázaro, desde a data do crime, para oferecer os serviços do programa”. A iniciativa oferece suporte, com assistência psicológica e social, a pessoas que tenham lidado com situação de homicídio, feminicídio, latrocínio, estupro, roubo, violência doméstica e familiar, além de sequestro e cárcere privado.

Com informações do CB 

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