Transplante de órgãos. Foto: ICTDF

Na maioria das vezes, o transplante de órgãos pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para as pessoas que precisam da doação

Por Delmo Menezes

Nesta quarta-feira, 27 de setembro, o Brasil celebra o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Os dados, instituídos pela Lei nº 11.584/2007, têm como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos e promover o diálogo entre familiares e amigos sobre o tema, que ainda enfrenta resistência no país. Embora o Brasil seja o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, o índice de recusa familiar para a doação de órgãos continua sendo um desafio.

O país conta com o maior programa público de transplantes de órgãos, tecidos e células do mundo. Cerca de 95% dos transplantes realizados são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece assistência integral e gratuita aos pacientes, desde os exames preparatórios até o acompanhamento pós-cirúrgico e medicamentos necessários. Em 2024, o SUS já registrou mais de 14 mil transplantes no primeiro semestre, superando os números de 2023 e estabelecendo um novo recorde. Este avanço reforça a relevância da ação de órgãos como um ato que salva vidas.

Dr. Marcus Costa, Primeiro Interventor do Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF – ICTDF. Foto: Delmo Menezes / Agenda Capital.

De acordo com o Dr. Marcus Costa, primeiro interventor do Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal (ICTDF), a doação de órgãos além de ser um gesto significativo é um ato de amor ao próximo. “Na maioria das vezes, o transplante de órgãos pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para as pessoas que precisam da doação. Seja um herói anônimo, doe órgãos e salve vidas”, pontua o gestor.

Segundo o Dr. Carlos Fernando, médico ginecologista/obstetra e vice-presidente do Sindicato dos Médicos do DF, é fundamental que as pessoas tenham este desprendimento. “A doação de órgãos obedecendo os critérios éticos e médicos, é uma oportunidade para salvar vidas. Doe órgãos e deixe sua marca no mundo”, disse Carlos Fernando.

Dr.Calos Fernando, médico ginecologista/obstetra e vice-presidente do SindMédico-DF.

Entre janeiro e junho deste ano, 14.352 mil transplantes foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país. O número já é maior que o do ano passado, quando foram registrados 13,9 mil durante o mesmo período. Os órgãos mais doados foram os rins, fígado, coração, pâncreas e pulmão, além da córnea e medula óssea que são tecidos.

No total, 4.580 órgãos, além de 8.260 córneas e 1.512 medulas ósseas (classificadas como tecidos) foram doados nos primeiros seis meses de 2024. O aumento em relação a 2023 foi de 3,2%. Se considerarmos apenas os transplantes de órgãos sólidos, o crescimento foi de 4,2% neste primeiro semestre do ano.

Um tema delicado, mas necessário

Apesar dos avanços, a doação de órgãos ainda é um tema sensível. Uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que a incompreensão sobre a morte encefálica, a falta de preparo das equipes médicas para comunicar o falecimento e questões religiosas estão entre os principais fatores que levam à recusa familiar. A legislação brasileira determina que, em caso de falecimento, a decisão sobre a doação de órgãos cabe à família. Isso reforça a importância de conversas abertas sobre o tema, para que a vontade de fazer seja respeitada.

Dr. Rafael Barbosa foi o primeiro Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos do ministério da Saúde. Foto: Agenda Capital

Para o Dr. Rafael Barbosa que foi o primeiro Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos do ministério da Saúde, a doação de órgãos salva vida. “Não pense duas vezes, um dia, sua família pode ser doadora de órgãos ou precisar de uma doador. Conversar sobre o tema é a melhor maniera de quebrar barreiras, vencer preconceitos e conhecer o desejo de cada um”, pontuou o médico.

Para Mateus Noleto, de 28 anos, que recebeu um rim de sua mãe em 2021, a doação de órgãos transformados em sua vida. “A qualidade de vida com um rim funcionando é incomparável a quem depende de hemodiálise”, explica. Morador do Distrito Federal, ele voltou para a lista de espera após uma eliminação, mas reforça a importância que é a doação para salvar vidas. “Quando conversas de órgãos que só podem ser doados após a morte, o ato é ainda maior, pois o que não serve mais para um, pode salvar a vida de outra pessoa”, diz Mateus.

Como funciona a doação de órgãos no Brasil

Os transplantes podem ser realizados tanto com doadores vivos quanto com doadores falecidos. Entre os doadores vivos, é possível fazer um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte dos pulmões. Já os doadores não vivos, geralmente pacientes em UTI com diagnóstico de morte encefálica, podem ter seus rins, coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino e tecidos como córneas, válvulas e tendões transplantados.

No caso de doador vivo, a pessoa maior de idade e capaz juridicamente pode doar órgãos a seus familiares. Para a doação entre pessoas não aparentadas é exigida autorização judicial prévia.

A decisão pela doação desencadeia uma ação coordenada entre hospitais, centros de transplante e equipes médicas, que seguem protocolos rígidos. A Central de Transplantes do Estado é notificada e seleciona, através de uma lista de espera, os receptores mais compatíveis.

Em 2024, a campanha “Setembro Verde”, promovida pelo Ministério da Saúde, busca intensificar o debate sobre a doação de órgãos e aumentar ainda mais os números de transplantes realizados. O Brasil conta com 728 estabelecimentos habilitados a transplantes, e o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) desempenha um papel crucial na regulação e monitoramento do processo.

Iniciativas para facilitar a doação

Com o objetivo de ampliar o número de doadores e facilitar a manifestação do desejo de doar, em abril de 2024 foi lançado o sistema Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO), em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A plataforma permite que os cidadãos manifestem seu interesse em fazer de forma eletrônica, registrando essa decisão nos cartórios nacionais. Basta acessar o site www.aedo.org.br, ou baixar o aplicativo para registrar sua vontade de ser um doador.

Avanços e investimentos

Além do crescimento no número de transplantes, o Brasil tem avançado em políticas públicas voltadas para a saúde dos pacientes que são selecionados para transplante. O Programa Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Falência Intestinal, criado em 2024, é um exemplo dessas iniciativas, trazendo uma abordagem intersetorial para o tratamento dessas pessoas no âmbito do SUS. Em termos de investimentos, o governo federal destinou R$ 718 milhões para os atendimentos até junho deste ano.

Cada ação tem o poder de transformar inúmeras vidas. O simples ato de comunicar sua intenção de ser doador aos familiares pode significar uma nova chance para aqueles que aguardam na lista de espera por um transplante. Ser um doador é ser parte de um legado de esperança e renovação para a vida de outros.

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Da Redação do Agenda Capital

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